Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

(*) Carlos Lúcio Gontijo
  Quando dei início ao sonho idealista de escrever e publicar livros, eu tinha 14 anos, mas como é exercício de difícil realização somente pude levar livro à gráfica aos 25, em momento que contei com o apoio decisivo de minha mãe Betty Rodrigues Gontijo, que se dispôs a me ajudar na venda de exemplares do meu “Ventre do Mundo” porta a porta.
  À época (em 1977) eu não tinha sequer emprego e ousei assinar notas promissórias relativas ao custo de impressão junto à extinta gráfica Nossa Senhora da Conceição – nem existe mais –, que ficava à Rua Além Paraíba, no Bairro Lagoinha em Belo Horizonte. Minha mãe e eu, num trabalho incessante, contando com a união de forças de muitos amigos na construção de divulgação boca a boca, conseguimos vender cerca de 1.500 livros, em pouco mais de duas semanas, e quitamos a grande dívida então assumida.
  Todavia, os anos se passaram e as dificuldades apenas arrefeceram, mantendo-se em elevado grau e, assim, conscientizando-me da importância de patrocinadores tão persistentes quanto o autor, como é o caso do saudoso amigo Wilson Ricardo de Oliveira (sempre agindo junto a agentes do poder público de Santo Antônio do Monte em busca de algum recurso), os saudosos empresários belo-horizontinos Antônio Faleiro (Buffet Faleiro) e Edmar Roque (Cantina do Lucas), além de inúmeras outras pessoas que apareceram ao longo da caminhada, ajudando-me tanto a dar textura à tinta quanto a segurar a minha prolífica pena de escriba menor.
  Trajetória literária é fenômeno de complicado erigir, uma vez que cultura é segmento visto como desnecessário pelos governantes, que só a valorizam quando a insensibilidade comunitária conduz a sociedade a uma visão distorcida de mundo com todos os males advindos da discórdia e da ignorância capazes de transformar eleições democráticas em ferramenta de legitimação de parlamentares mergulhados em raivosos rompantes ditatoriais e até golpistas, demonstrando completo descompromisso com os direitos e deveres constitucionais, além de avassalador desprezo à indispensável implantação de políticas públicas voltadas para os mais pobres.
  Não é fácil abrir clareiras em meio às vaidades acadêmicas, onde todos os intelectuais se nos apresentam demasiadamente grandes e, ao mesmo tempo, perseverar na publicação de livros. Dentro de quadra tão avessa ao soerguimento de ambiente mais propício à construção de ambiente cultural de mais irmandade, logo aprendi que a inveja não impede o sucesso do invejado, mas corrói a caminhada do invejoso. Dessa forma, optei por enfrentar com trabalho os contratempos e as idiossincrasias existentes no âmbito das artes, pois cheguei à conclusão de que mais vale perder-se em doçura que entregar-se às amarguras da vida.
  Cultivo em mim a mais profunda gratidão aos colegas jornalistas das páginas de cultura dos jornais “Estado de Minas” e “Diário da Tarde”, que (nas décadas de 1980 a 2000) abriram espaço à divulgação dos muitos lançamentos que realizei na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O certo mesmo é que não posso cair no desejo de enumerar as tantas pessoas que me foram solidárias ao semeio “poético-literário” iniciado há 58 anos e que agora deságua no lançamento do livro “100 TEMPO”, no espaço cultural do XANGÔ (bar, restaurante e arte), em Belo Horizonte, dia 27 de abril, data em que comemorarei 72 anos, 45 anos de meu casamento com a amada Nina e 47 de publicação do meu primeiro livro, razões pelas quais ainda esculpo minha alma em verso e prosa, como se a vida fosse simples horizonte de palavras entalhadas.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

13 de março de 2024.