Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

        Carlos Lúcio Gontijo

 

          Depois de lançar dois livros, nos meses de abril e maio, em Santo Antônio do Monte e Belo Horizonte, debrucei em dois novos projetos. Uma obra infantil (A tartaruga Georgina), para o ano de 2018, que terá designer gráfico do publicitário Júlio César Campos, e um livro intitulado “Bodas de bule”, dividido em duas partes: a primeira composta de 40 poemas, e a segunda uma novela (“Café sem pó”), numa parceria com o comunicador visual Nivaldo Marques Martins, companheiro de muitas jornadas literárias e que não poderia ficar de fora do meu 22º livro, com o qual Nina e eu comemoraremos 40 anos de casamento e cumplicidade no mundo da literatura e da poesia.

       Enfiar a cara em dois trabalhos logo após o lançamento conjunto de dois livros foi a forma que encontrei para não andar por aí e me defrontar com tanto radicalismo sem causa, formado ao longo dos anos por uma mídia partidária e que nunca deixou de beirar os cofres públicos para o seu sustento. Vem daí a razão pela qual os chamados grandes veículos de comunicação brasileiros abandonaram o seu status de quarto poder e representante do povo, para se tornar braço aliado de grupos facilitadores de carreamento de recursos, representando a si mesmos e a segmentos políticos descartáveis, aos quais apoiam enquanto tiver seus interesses serviçalmente encaminhados por eles.

       Não sei qual a surpresa de assistir à derrocada do senador mineiro Aécio Neves, que há muito exerce seu coronelismo torpe em Minas Gerais, sob as bênçãos da mídia, poderes constituídos e políticos do Estado, que ao longo dos anos sempre agiram no sentido de propagar a figura do cavaleiro do choque de gestão e seus capatazes.

       Não tem como discutir política com pessoas que agem como se estivessem numa arquibancada de jogo de futebol, onde torcedor aplaude a validação de gol de mão, quando em benefício de seu time e ainda coloca Deus na jogada, dizendo que foi a mão de Deus. Daí para anuir-se a práticas direcionadas à quebra, flexibilização e relativização dos textos da lei foi um passo. Surgiu o domínio do fato, a suposição, a convicção e o eu penso que você é criminoso e, por isso, você o é!

       Como entrar numa discussão lastreada em tais termos, quando se sabe que a única coisa capaz de dar alguma proteção às camadas mais pobres é o texto legal e que, sem ele, estas camadas da população estariam fadadas às masmorras insalubres ou ao cadafalso do pelourinho, ao qual querem reinaugurar através da reforma trabalhista, conduzida por parlamentares denunciados pela Justiça – a maioria deles por usar seus mandatos para surrupiar os cofres públicos.

        Dificilmente, o Brasil alcançará sucesso econômico-social dentro do velho esquema de alijamento de parte de sua população do processo de desenvolvimento. A insistência em se promoverem medidas sem a plena observação do outro, sem a introdução do amor pelo próximo na elaboração de projetos e na condução de nossas vidas, tem servido de combustível para a ampliação da discórdia social, criando em nosso país um núcleo volumoso de pessoas detentoras de baixa informação política democrática, onde imperam manifestações autoritárias e o estranho desejo de se satisfazer com o aparecimento de algum salvador da pátria com direito ao chicote e à escravização, em nome da ordem e progresso. Veladamente, a ideia das elites políticas é sempre agir em prol da fermentação de consistente massa popular de manobra, a fim de perpetuar a existência de um Brasil para poucos, tão poucos, que um dia pode tornar-se de ninguém e completamente dominado por seus majoritários sócios estrangeiros.

       Voltando ao texto de abertura deste artigo, remeto-me aos amigos e leitores que nos têm prestigiado no transcorrer das últimas quatro décadas. Quantos leitores do tempo de minha coluna semanal no jornal “Diário da Tarde” que ainda acompanham a minha labuta! Assim, dentro dessa premissa de cultura, amizade e calor humano, convidei a jornalista e psicóloga Berenicy Raelmy Silva para prefaciar o “Bodas de Bule”/ “Café sem pó”, que então me enviou a gentil mensagem abaixo, com a qual encerro esta página.

      “Você não pode parar de criar, de escrever! Está na veia, no sangue que corre por todo seu corpo; você é veículo das letras, das palavras, das mensagens que só podem ser trazidas a quem ama a leitura através da sua escrita, do seu escrever, do seu modo de dizer e traduzir as mensagens que TÊM DE SER TRAZIDAS A NÓS SIMPLES HUMANOS. Renda-se e continue assim, desse jeito só seu, no seu mister. O resto fica a cargo da vida, ela arranjará um jeito; e de Deus, esperemos que isto não seja um abuso. Obrigada por confiar em mim; não sei se darei conta da tarefa de modo a não te decepcionar. Mas veremos – deixe-me chegar lá.”

       Carlos Lúcio Gontijo

       Poeta, escritor e jornalista

      www.carlosluciogontijo.jor.br

     1º de junho de 2017.