Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                    Carlos Lúcio Gontijo

        O tempo da maturidade não nos vem como atributo anexo ao registro do passar dos anos e da idade. Ou seja, sem vivência, sinceridade e aprendizado, corremos o risco de ter cabelos brancos e nos comportar sob os mesmos parâmetros da inexperiência de vida da época de juventude. O avanço da comunicação informatizada e instantânea nos põe diante de colossal feixe de escolhas, que é determinante para a nosso sucesso ou insucesso; felicidade ou infelicidade.

       Há uma exigência a nos conduzir ao rápido discernimento sobre onde tomar assento demoradamente e, também, em que lugares não alongarmos conversa e sequer guardar o endereço, uma vez que estamos neste plano terrestre em busca de acrescentar pontos e graus de luz ao nosso espírito viajante.

       Somos seres irmãos e integrados a tudo que nos rodeia. Portanto, não é à toa que 70% do nosso corpo são pura água, como se fôssemos rios e mares – um verdadeiro manancial hídrico de pernas. Todavia, o percentual de água em nosso organismo vai diminuindo com o passar do tempo: entre 0 e 2 anos de idade somos 75% líquido; entre 10 e 15, 65%, até chegar ao volume de 50% depois dos 60 anos. Com toda certeza, as fases da Lua agem sobre o nosso humor, à maneira do que acontece com as marés.

       Na minha atividade de poeta e romancista aprendi logo que, sem a busca de metáforas, o exercício da arte da palavra não acontece, não vem a lume. Os sonhos e a realidade têm que marcar presença em todo caminho que se queira tangível e capaz de nos levar ao encontro de obras edificantes, com o indispensável potencial para assinalar a nossa passagem pelo plano existencial terrestre. Como escrevi no romance “Lógica das borboletas”, pés no chão é bom, mas o voo é absolutamente necessário à nossa alma. Aliás, viver intensamente é preciso, pois se chegamos ao futuro sem asas, de que nos terá valido o estágio de larvas?

       O imediatismo não deve e nem pode nortear a construção de carreira no âmbito das letras e demais funções laborais, pois o profissional corre o risco de ser tragado pelas frustrações e não se dar o direito de se especializar, aprender e sobrepor às quedas. Tenho plena compreensão de que não estaria por atingir a marca de 25 livros no ano que vem (2022) se tivesse lançado o primeiro título e, revestido de tolo orgulho, me pusesse à espera de pronto reconhecimento.

       Desde 1977, quando publiquei o meu primeiro livro, observei que, dentro do prisma de autor independente, o que me cabia era produzir minha obra e, além da comercialização, abrir espaço à doação de exemplares a escolas e bibliotecas (principalmente as de periferia). Assim pensando, além de remeter exemplares pelo correio, eu já estive presente – sempre acompanhado de minha esposa Nina – em muitas cidades, levando livros para doação a unidades municipais de ensino fundamental, com a alegria e disponibilidade de quem cumpre sagrada missão cultural.

     Agindo dessa forma, sinto-me mais irmanado à sociedade e mais integrado à simbiose natural e cósmica, dando-me a sensação de poder voar como os pássaros e as borboletas, ou me deixar conduzir pelas fases da Lua e me erguer em providencial maré-cheia quando os males e agruras do mundo estiverem, ameaçadoramente, ao meu encalce.

      Carlos Lúcio Gontijo

      Poeta, escritor e jornalista

    www.carlosluciogontijo.jor.br

    24 de setembro de 2021.