Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

 

        Trago nos olhos o vento, a chuva e o sol dos horizontes da casa da minha infância ao lado de minha mãe. Escrevo nas linhas do meu universo emocional desde os nove anos e foi assim que aprendi a não me incomodar com a indiferença, as idiossincrasias da inveja e o descaso atrevido dos ignorantes, pois sempre mais me valeu acelerar o passo e seguir adiante no cumprimento de minha missão.

          Eu e Nina estamos prestes a completar 38 anos de casados e sabemos como ninguém a dificuldade que é enfrentar os custos de edição de livros. O drama começa na gráfica, nos convites para o lançamento, na organização do evento, passando pelo preço dos Correios, onde o valor de postagem de livro é medido pelo peso, como se tratasse de papel qualquer, ainda que enviados a bibliotecas e escolas.   

          Não raro a proximidade (família, amigos, conhecidos e vizinhos) cultiva o hábito de se prender aos nossos defeitos, enquanto omite nossas qualidades. Talvez por isso os elogios, os reconhecimentos e os incentivos costumam quase sempre nos chegar através de pessoas que não nos conhecem, detectando tão-somente o valor contido em nosso trabalho.

          A falta de leitura transforma o indivíduo em analfabeto funcional, levando-o a não entender o que lê e, ao mesmo tempo, tornar-se cidadão de fácil manipulação por parte de agentes políticos dispostos a se empenharem em prol da continuidade e aperfeiçoamento dos mecanismos garantidores das desigualdades e injustiças sociais. Não é à toa que muitos jornais ousam estampar manchetes que são desmentidas ao longo dos textos que as acompanham, sob a confiança de que a maioria dos leitores cometerá o equívoco de não ler a matéria, ficando apenas com a mensagem enganosa do título em letras garrafais na memória, auxiliando na disseminação de mentiras que são tomadas como expressão da verdade.

          Lamentavelmente, a cultura, que dá sentido e consciência aos conteúdos didáticos ministrados pela educação, não encontra o devido espaço nos projetos dos governantes, que não se interessam pela formação de cidadãos determinados a lutarem pela construção de uma sociedade melhor.

          Hoje, veio da gráfica uma parte dos exemplares do romance “Desmemória de horizonte” e, no limiar dos meus 65 anos, ajudei a descarregar os pacotes do novo livro, que têm o peso dos sonhos de um escriba menor e, assim sendo, arrumei lugar em meu próprio quarto para guardá-los, como se quisesse (e quero) adormecer sob o aroma da tintura fresca de material impresso, que me acompanha desde o lançamento do meu primeiro livro em 1977.  

          Carlos Lúcio Gontijo

          Poeta, escritor e jornalista

         www.carlosluciogontijo.jor.br

        9 de abril de 2017.