Carlos Lúcio Gontijo
É dever do Estado a alavancagem de políticas públicas que visem combater a existência de camadas da população vivendo sob o signo da pobreza absoluta e assim, na falta de perspectivas e apoio, perpetuando a formação de cidadãos multiplicadores do quadro de miséria material, do qual advém baixa escolaridade e sofrível capacidade intelectual, impossibilitando às pessoas em tais condições o necessário acesso a bons empregos e meios capazes de as conduzirem a uma vida digna.
Num país como o Brasil, no qual os bolsões de pobreza se estendem por seu território, a informação de que o derrotado governo Bolsonaro não deixou orçamento para a manutenção de programas como o Farmácia Popular, a Merenda Escolar e o auxílio de R$600,00 destinado às famílias mais pobres, que foi usado exaustivamente como promessa de campanha, ao passo que carreava bilhões para o anômalo orçamento secreto, impondo criminosa sangria aos cofres públicos.
Dentro da mesma linha de posicionamento econômico, o ministro Paulo Guedes projetou cortes (e o presidente Bolsonaro aquiesceu) de 95% nos recursos voltados à construção de moradias para as classes mais pobres, deixando no apagar das luzes rastros indeléveis do princípio ideológico que marcou o seu governo: uma administração direcionada apenas aos núcleos mais ricos da população, aprofundando insensivelmente os níveis da desigualdade social brasileira.
Incomoda-me cada vez mais o que não é se me apresentando como se fosse, transformando a mentira em alicerce tão resistente a ponto de nivelá-la à realidade, com a nossa gente perdendo o discernimento sobre o que é verdadeiro e até marchando em prol de causas prejudiciais à sua busca de um futuro melhor, que ao certo não virá sem direitos básicos como acesso democrático a uma escola de qualidade, à saúde (via fortalecimento do SUS, do programa Farmácia Popular) e da construção de moradia popular.
Não há como negar que somente sob o estágio de desinformação generalizada, uma sociedade clama por regime militar, abrindo nome de escolher o seu destino através do voto democrático e a indispensável alternância de poder, evitando o surgimento de reinados e supostos donos da razão, que passam a tratar as questões coletivas com o olhar e as ações individualistas de um senhor de engenho.
Horizonte assim esgarçado e de tão pouca luz me levou a escrever, enquanto tenho ânimo e energia, o meu 26º e derradeiro livro, intitulado “100 TEMPO”, com ilustrações e projeto gráfico de Valdeci Almeida e, ainda, participação do jovem estudante moemense Petrus Marques, que contribuiu com expressivo desenho, colocando-me ao lado de minha saudosa avó professora Venina Gomes, que dá nome a escola de ensino fundamental, uma avenida e bairro em solo da cidade de Moema, no centro-oeste de Minas Gerais.
O livro “100 TEMPO” já está impresso, com os exemplares estocados no município de Contagem, onde ficarão até o mês de abril de 2024, quando programo realizar lançamento em comemoração aos meus 72 anos e aos 45 do meu casamento com Nina, minha companheira de vida e luta poético-literária. Na ocasião, o site (que abriga toda minha obra literária) estará completando 19 anos de sua inserção no ambiente virtual da Internet – e é nele que continuarei mantendo contato com os casuais leitores, sob a esperança de assistir a um Brasil desabridamente disposto a mergulhar-se no gosto pela leitura e, dessa maneira, abandonar o culto à ignorância, à desinformação e à tresloucada atitude de menosprezar a ciência, acreditando que vivemos numa Terra plana, como se fôssemos recheios de pizza condenados a arder ao sol escaldante de cada dia.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
(4 de novembro de 2022)