Carlos Lúcio Gontijo
Vivemos um tempo de donos da verdade – cada um com o seu pensamento radical na manga do colete da mente. Há muitas pessoas que procuram ao labor da inteligência ou da ignorância apenas como fio- condutor de demonstração de aparente superioridade, que em muitos casos não passa de exercício de vezo destrutivo, numa prova de que a destruição é o meio mais fácil de as crianças birrentas e os adultos fanáticos exibirem sua pretensa força.
Dentro de tais paradigmas, tudo nos tem sido apresentado como de caráter relativo e passível de passar por processo de desconstrução, sejam valores morais, religiosos ou políticos, nada escapa da sanha demolidora. É exatamente sob essa égide inconsequente que, por exemplo, o Congresso brasileiro tem aprovado medidas inadequadas e insuportáveis aos cofres e estruturas sociais brasileiras, como se o propósito fosse, única e exclusivamente, inviabilizar a administração pública, numa explícita busca do estabelecimento do caos como via de facilitação do acesso ao poder por grupos ou segmentos políticos insatisfeitos.
Lao-Tsé, filósofo chinês nascido em 604 a.C., dizia aos governantes que instruir o povo é o mesmo que arruinar o Estado. Infelizmente, a educação desatrelada da cultura, como acontece no Brasil, onde se privilegia demasiadamente o conteúdo didático em detrimento das atividades de cunho lúdico-cultural, vem produzindo um numeroso exército de diplomados e “doutores” banhados em luzidia ignorância.
Os compêndios filosóficos, como é o caso do livro “Introdução Geral à Filosofia” – por Jacques Maritain (no qual fomos pinçar elementos para este artigo), nos ensinam que a razão muitas vezes se engana principalmente nas matérias mais elevadas. Não é à toa que Cícero afirmava que não há tolice no mundo que não encontre um filósofo para sustentá-la. Nesse ponto específico, os meios de comunicação e todo aparato do chamado poder constituído do Estado brasileiro, a partir do momento em que se deixaram dominar por partidarismo político, caíram nas profundezas do abismo do relativismo, no qual tudo é ou pode ser alvo de questionamento, dispensando-se inclusive provas, como se a manifestação de desejo pudesse ser alcançada sem materialização ou justificativa palpável e verdadeira.
Para azar daqueles que se nos apresentam como de fossem donos da verdade, o que é verdadeiro existe independentemente de seus esforços em sentido contrário. A ignorância não pode ser catapultada ao estágio de erro, mas aquele que detém conhecimento e concorre para que decisões sejam tomadas de forma errônea ou equivocadamente, contribuindo para a disseminação de ódio, dissensão política, discórdia social e da total inviabilização da convivência pacífica em sociedade, esse não merece perdão nem condescendência do povo (nós), que em última instância termina como a única parte prejudicada pela tresloucada luta pelo poder articulada por homens ditos públicos, que cotidianamente nos provam (e comprovam) que todo projeto ou plano preconcebido, toda ideia imposta e qualquer radicalismo ativado como luz da razão são um mal em si mesmos, não devendo ser, portanto, levados em conta e extirpados da mesa de negociações em prol de um Brasil melhor.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
26 de julho de 2015.