Carlos Lúcio Gontijo
Nina e eu costumamos dizer que administramos uma organização cultural não-governamental composta por um site “poético-literário” em livre e total acesso aos casuais leitores visitantes à nossa obra, viagens a muitas cidades levando, gratuitamente, livros a escolas públicas de ensino fundamental, publicação de novos títulos (ainda agora, estamos com dois livros nas mãos do ilustrador e cartunista Júlio César Campos). Podemos afirmar, com toda a certeza, que quem nunca colocou livro na mão de criança de periferia, não sabe nada de caridade.
Confessamo-nos felizes e ao mesmo tempo surpresos com a escolha de nossa obra (22 livros, duas segundas edições, uma coletânea com os cinco primeiros livros, mais de 600 artigos publicados nos jornais Diário de Minas, Diário da Tarde, no qual trabalhamos 30 anos, Tribuna de Mariana, O Trem Itabirano, Observatório da Imprensa, revista portuguesa EISFLUÊNCIAS), uma vez que, culturalmente, nós brasileiros, temos o mau hábito de desprezar o fruto doce de nosso quintal e achar menos verde a grama de nosso jardim. Por isso, temos muito a agradecer à Secretaria de Cultura de Santo Antônio do Monte, nas pessoas da secretária Margarete Resende, Marisa Campos, Vilma Antônia (a querida Vilminha) e Fernando Gonçalves, pela ousadia de homenagear autor da terra, que sempre cantou hinos ao sangue montense pela vida afora. Colocamo-nos gratos, também, à secretária de Educação, Márcia Bernardes, pelo decisivo e indispensável apoio à formatação e encaminhamento da materialização da ideia de organização de festival de literatura em torno do conjunto de nossa obra.
Ao longo de nossa trajetória de vida habitamos três cidades: Belo Horizonte, Santo Antônio do Monte e Contagem. Foi em solo santo-antoniense que vivemos nossa infância e adolescência; cursamos o ensino fundamental na Escola Waldomiro de Magalhães Pinto, fizemos o ensino médio na indelével e popularmente conhecida “Escola da Dona Maria Castro” e jogamos futebol no Flamengo, onde tínhamos o apelido de “Furquia”, marcando um tempo inesquecível e fundamental na formação de nosso caráter como ser humano e cidadão.
Os autores com os quais tivemos contato ao longo da construção de nossa carreira no mundo das letras jamais tiveram esse reconhecimento da terra em que nasceram e, mais ainda, com tamanha espontaneidade. Gostaríamos de contar com a presença da saudosa mãe Betty e dos saudosos escritores Bueno de Rivera (poeta maior de SAMonte, conselheiro e amigo sincero, que nos “impôs” a necessidade de busca de estilo próprio e, assim, ficamos dez anos sem editar – até o lançamento de “Cio de Vento” em 1987), professor Aluísio Pimenta e Celso Brant, nossos prefaciadores, que certamente falariam entusiasmados da raridade de tal homenagem no âmbito cultural, construindo-nos um horizonte de luz que nos levou à doação de 30 exemplares da obra “A tartaruga Georgina”, para festa junina na Escola Waldomiro Magalhães Pinto, 320 exemplares de livros de nossa autoria para distribuição gratuita por intermédio de biblioteca móvel, que percorrerá escolas de Santo Antônio do Monte divulgando o evento, cujo encerramento se dará com o lançamento do livro “Bodas de bule – Café sem pó”, nosso 22º título, dia 7 de junho, no Glória Clube.
Sob o intenso contentamento proporcionado pelo FLISAMONTE/2019, podemos dizer, com toda confiança e propósito de alma, que nossos passos lavradores sulcam o chão, onde semeamos livros como se fossem sementes, motivados pela certeza de que, ainda que seja infértil o solo – muitas vezes dominado pelo pó da ignorância, compensa o esforço da aração, pois no meio do caminho as pedras podem ser esboroadas com o auxílio sensível de gente capaz de algum reconhecimento honesto, como é o caso de todas as pessoas envolvidas com a organização do festival de literatura 2019 de Santo Antônio do Monte.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
25 de maio de 2019.