Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                                    Carlos Lúcio Gontijo

 

Não é fácil introduzir, nos poucos jornais que ainda mantêm página destinada à publicação de opiniões, qualquer assunto relativo à promoção da cultura defensora de valores, que é tratada como se não fosse assunto inerente à política, uma atividade tomada apenas como sinônimo de exposição radical de crítica ferrenha a favor ou contra o governo.

A grande realidade é que, se nossos representantes congressuais são ruins, relapsos, descompromissados e corruptos com os que se dizem bons e honestos, se nos apresentando incapazes de quebrar o corporativismo e expurgar a parte podre com que se misturam promiscuamente, a responsabilidade e ônus recaem exatamente sobre a inexistência de apoio mais efetivo à educação e à cultura, que são as ferramentas capazes de ampliar o nível educacional, o grau de conhecimento e, ao mesmo tempo, através da arte, da poesia e da literatura, sensibilizar o cidadão no tocante à ética e à necessidade de praticar a gentileza e o amor ao próximo na convivência social.

Escrevemos artigos há mais de trinta anos, fomos editorialistas de jornal durante muito tempo e editamos livros desde 1977, levando sempre em conta que o mal, o bem, a violência e o descompromisso social são fenômenos que não se dão por geração espontânea. Ou seja, eles são o fruto de sementes cultivadas pela própria sociedade, que anda descuidando até da educação de suas crianças, hoje presas em seus apartamentos e estimuladas a crescerem antes da hora, queimando etapas e alcançando a sexualidade antes do momento marcado pelo relógio biológico.

Vivemos a era da competitividade desmedida e da pressa, na qual a vida é levada como se fosse uma espécie de fast-food, que deve ser comido numa só bocada, sem a paciência de saborear nem degustar. Até mesmo a literatura experimenta o afogadilho do imediatismo, com os seus agentes e autores pretendendo sucesso retumbante mesmo antes de construir obra consistente, que muitas vezes se reveste de restrito e pequeno reconhecimento.

A sofreguidão e o açodamento com que buscamos nossa realização como pessoa e seres humanos estão nos extirpando a capacidade de ver a vida como uma bênção divina e assim, mesmo com a ciência nos propiciando o esperado alongamento da longevidade, a sensação que temos é de que jamais nos daremos por satisfeitos, jamais nos veremos como pessoas realizadas, uma vez que, além de não estabelecermos metas e nem nos contentarmos com coisa alguma, ainda nos especializamos em caminhar de olho no quintal do vizinho, onde a grama sempre nos parece mais verde.

Somente por intermédio da democratização do acesso ao ensino de qualidade e a ampla oferta de boa cultura para todos é que poderemos assistir à construção de uma sociedade em que o sucesso individual seja entendido como materialização da possibilidade de conhecermos o nosso propósito na vida, crescermos para atingir o nosso potencial máximo e lançarmos sementes que beneficiem outras pessoas. Aí sim, caro leitor e cara leitora, Cristo renascerá para sempre no Natal e todos os anos serão definitivamente novos.

 

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista.

www.carlosluciogontijo.jor.br