Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                              Carlos Lúcio Gontijo

 

          Quando é do interesse da mídia travestida de partido político temos o endemoninhar irresponsável da atividade política ou o endeusamento e mitificação, como se viu e está se vendo no caso da morte do candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Dessa forma, assistimos aos meios de comunicação agindo na ordem inversa, ao contribuir para a deseducação do povo, que permanece como terceira pessoa: é o eterno ninguém ou simplesmente o invisível outro.
          Os grandes jornais brasileiros insistem em se nos apresentar na condição de donos da notícia, apesar de constante e imediatamente serem desmentidos pela internet, através de sites e blogs, que têm contribuído para a democratização da informação, desmontando o poderio de meia dúzia de famílias que há anos decide o que, como e quando noticiar, transformando o fato real em material a ser editado de maneira consonante com os seus interesses, colocados sempre acima dos anseios da coletividade.
          Se verdade é o fato de que a internet tirou leitores de jornais e revistas e, agora, até das tevês abertas, não é menos verdadeira a tese de que, ao prosseguir na linha editorial atrelada a interesses de seus proprietários e grupos políticos que os rodeiam, os meios de comunicação tradicionais perderam a oportunidade de se transformar em contraponto ao noticiário virtual, ainda tão repleto de abusos e deformações, guiando-se pela credibilidade e democratização do conteúdo jornalístico, que precisa ser marcado por amplo leque de opiniões.

          Num ambiente assim alicerçado, não haveria espaço para âncoras de programas de tevê fazerem de casuais entrevistas, por exemplo, uma oportunidade para alinhavar editoriais durante a elaboração de perguntas a candidatos ou personalidades políticas. Em determinadas ocasiões, esse cenário é tão explícito, que se for realizada uma pesquisa de desempenho é bem capaz de se encontrar telespectador disposto a votar no prolixo jornalista.
          Não sei aonde chegará a grande mídia brasileira com o seu radicalismo e seu pendor colonialista indisfarçadamente carregado de rótulos contrários ao próprio Brasil, indo desde o vezo elitista de considerar o povo ignorante e incapaz de traçar o seu destino até o desejo de servir às nações desenvolvidas em troca de alguma migalha, numa congênita síndrome silvícola, trocando o ouro pelo espelho.
          Confessamo-nos enojados dessa gente desprovida de limite, que não veste a sandália da decência e do sentimento cristão nem mesmo em cerimônias fúnebres, nas quais comparecem para tirar proveito eleitoral, fazendo literalmente campanha de “boca de urna”, onde em vez de lágrima e respeito presenciamos caras, bocas e risos que escapam, pois a face sempre termina por revelar o que em nossa alma vai, inclusive de experientes políticos acostumados ao exercício profissional do teatro social, que é encenado em todos os palcos – até nos cemitérios!

          Carlos Lúcio Gontijo
          Poeta, escritor e jornalista
         www.carlosluciogontijo.jor.br

         19 de agosto de 2014.