Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo (*)

            A cultura perde cada vez mais espaço nos meios de comunicação, que há décadas se esmeram na propagação de produtos desprovidos de valor cultural e, portanto, incapazes de dar qualquer contribuição à construção de uma sociedade melhor. Ao passo que assistimos ao menosprezo pela cultura, pela educação e pelo conhecimento, com desabrido corte de verbas em tais áreas, detectamos uma insólita e surpreendente entronização da ignorância – tratada explicitamente como louvável predicado.

Em um primeiro momento, pode parecer aos desavisados que o problema diz respeito apenas a autores, atrizes, atores, músicos, cantores, pintores, artesãos, professores etc., mas na realidade, quando os segmentos intelectuais e artísticos são desconsiderados, a sociedade perde importante fator de sensibilização dos cidadãos, abrindo espaço para o egoísmo e a mais completa falta de visão em relação ao próximo, que definitivamente não é levado em conta, sucumbido e tragado pelo materialismo hedonista.

Daí então surge uma grave pandemia como a do coronavírus e o governo encontra dificuldade em conscientizar a população da importância de se arrebanharem forças em torno de uma causa coletiva, pois o egoísmo e o individualismo instalados na sociedade se encontram tremendamente entranhados no tecido social, impedindo ações de cunho coletivo. Não é à toa que, na busca de proteção, os cidadãos brasileiros consumiram rapidamente todo o estoque de álcool gel das prateleiras de supermercados e farmácias país afora.

Muitos afirmam (e com razão) que uma casa sem livros é uma casa sem alma e, numa moradia assim, não há espaço para a formação de seres humanos dados à reflexão e à geração de sentimento e compromisso para com o outro, que, numa filosofia mais abrangente e cristã, nos ensina que nossa existência só ganha inteireza e plena luz, quando mergulhamos na prática espontânea do amor ao próximo.

Enfim, o real ser humano necessita de acesso democratizado a escolas de qualidade, a bibliotecas, a pontos públicos de cultura e conhecimento, transformando-o em gente sensível e reluzente, como se fosse uma espécie de poema que anda!

(*) Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

22 de julho de 2020