Carlos Lúcio Gontijo
Não sei onde o diabo faz morada, mas o rabo dele se acha, atualmente, enrolado nas mentes carregadas de ódio político no Brasil que, apesar de ter um quadro político-partidário repleto de siglas que nada ou pouco significam, se nos apresenta dividido entre dois partidos – PT e PSDB –, que se juntam apenas visando à promoção de medidas como a triplicação do fundo partidário anual, agora fixado em 867 milhões de reais.
Os ressentidos são tantos e tomados por tamanha ira que não há sequer chance para dar opinião, pois ao que nos parece todos estão surdos e voltados para si mesmos, mergulhados no egoísmo e individualismo extremo, que não lhes oferecem oportunidade alguma para reflexão ou um momento de trégua, para que se mirem no espelho, tomem ciência do monstro em que estão se transformando e comecem a pensar na premência de uma generalizada reforma humana.
Assim como o conhecimento adquirido através da educação necessita ser acalentado pela cultura e o sentimento do coração, ganhando moldura e norteamento prático, inibindo o surgimento de tanto ignorante com diploma; movimento político marcado pelo ódio não se conduz a bom termo, pois carece de altruísmo e visão cristã do próximo. E no caso brasileiro, o irmão está mais para a condição de inimigo que simples adversário no campo das ideias.
Não há condição de se atuar, democraticamente, como mediador ou expositor de panorama político diante de grupos tão antagônicos, promovendo o levantamento de questões que beiram ao fascismo, como o clamor de alguns pelo golpe, pelo retorno ao autoritarismo ou a inconfessável revolta pela ascensão social de camadas historicamente subjugadas da população, numa demonstração inequívoca de que a pobreza da maioria é mesmo um ingrediente facilitador da desmedida (e anticristã) concentração de riqueza. Tanto é verdade que os mesmos parlamentares que insuflam o povo contra o governo tentam aprovar um projeto de ampla terceirização, leia-se precarização, da mão-de-obra brasileira, numa inconcebível sanha de traição às históricas conquistas da massa trabalhadora, acompanhando preceitos neoliberais exaltados em passado recente, pelos quais tudo é considerado relativo e mutável.
Como fator de agravamento da discórdia social, assistimos ao envolvimento da grande mídia brasileira, que se tornou partidária e seletiva – protege e esconde os escândalos do grupo amigo e amplia os decibéis da ressonância relativa aos desvios daqueles aos quais tem como inimigos, a ponto de influir até no discernimento do Judiciário (auxílio moradia de R$4.377,73), que muitas vezes joga para a plateia, alimentando as manchetes dos jornais e os holofotes dos canais de televisão.
E por falar em tevê, não existe coisa mais fomentadora de desanimador imbróglio que a opção pela cobertura de tudo de ruim e violento feita pela mídia televisiva (sob o exclusivo propósito de manter os cidadãos acuados e em estado de choque), que se colocada diante de uma pedreira, na qual haja uma bela plantinha florida numa fresta, simbolizando esperança, com toda a certeza haveria espaço apenas para a árida apresentação da pedra.
Chegamos a imaginar que, se a sociedade real fosse a que nos é revelada, cotidianamente, pelos meios de comunicação, estaríamos vivenciando a plena construção do bíblico apocalipse, no maior país cristão do mundo, onde irmão desconhece irmão e, politicamente, briga não por avanço político, mas por chegar ao poder e dele usufruir – na base do agora é minha vez de cometer corrupção!
Ou seja, o sonho de consumo de uns é ganhar acesso à possibilidade de perpetrar idênticos atos lesivos à pátria, que hoje são cometidos por outros, uma vez que os contendores se encontram envolvidos no mesmo mar de lama, como é o caso do mensalão mineiro (PSDB) e o mensalão do PT.
Então, nossa visão final é que, no fogaréu desse inferno todo, as pessoas se engalfinham nas ruas e polemizam nas redes sociais virtuais da internet, gerando mais calor que luz, para alegria do diabo que mantém o seu rabo aquecido.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
16 de abril de 2015.