Carlos Lúcio Gontijo
A classe política e instituições públicas de relevo se uniram ao redor dos cofres da república e, ao passo que travam luta por posicionamentos regados a fanatismo e interesses escusos, mantêm-se coesas quando o assunto é solapar os parcos recursos brasileiros.
Fundo eleitoral e dinheiro destinado a emendas parlamentares são instrumentos inaceitáveis em tempo de pandemia, crise econômica, desemprego e empobrecimento da população, que segue perdendo qualidade de vida e direitos, para que uns poucos possam viver nababescamente.
Negacionistas, fundamentalistas religiosos e espertalhões de toda a espécie – que vivem da capacidade que têm no que diz respeito a ludibriar os incautos e os cidadãos das classes mais pobres material e intelectualmente, pois intencionalmente mantidos bem longe do acesso a mecanismos de educação e cultura de qualidade – tomaram as rédeas de comando dos destinos do Brasil e estão provendo um rápido e inconcebível retorno da sociedade brasileira à miséria, à fome, à ausência de perspectiva futura e, o que é pior, a uma reverência sem precedente à ignorância, que foi elevada ao grau de predicado.
Não dá para entender como o primeiro mandatário do País, depois de assistir a mais de 600 mil mortes por Covid-19, destruindo famílias e deixando tantas crianças órfãs Brasil afora, continue propagando mentiras em suas postagens na internet, como é o caso de seu recente pronunciamento, no qual afirmou que a vacina contra a Covid-19 provoca Aids. O absurdo se nos apresentou tão destrutivo e inoportuno que o Facebook retirou a vergonhosa live presidencial do ar.
Lamentavelmente, reunião no Congresso Nacional voltou a representar sinal de alerta à Nação, pois nada de bom se pode esperar de uma classe política disposta a agir em nome de si mesma e, invariavelmente, em prol dos agentes do tal mercado econômico, que batalha pelo direito de permanecer sem face e detentor do direito de nada produzir em benefício da construção de uma sociedade melhor, alicerçando de maneira ferrenha uma economia perversa, baseada no ganho financeiro e na exploração dos seres humanos, aos quais destina baixos salários e desassistência no tocante à saúde, educação, cultura, moradia, saneamento básico.
É dentro dessa estrutura de monstruosa desigualdade que o atual governo, que sempre se declarou contra a existência do programa bolsa família e demais instrumentos de combate à miséria, cria um acintoso “bolsa eleição”, depois de ter (deliberadamente) contribuído para o agravamento da pobreza – como se estivesse a ampliar a possibilidade de ter em suas mãos um imenso contingente de cidadãos desesperados, acessíveis e entregues às manobras governamentais engendradas pelo ministro Paulo Guedes, que tem no Chile do ditador Pinochet o seu ideal e visão de mundo socialmente bem-sucedido.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
25 de outubro de 2021.