Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                                 Carlos Lúcio Gontijo

           Nunca foi tarefa fácil exercer carreira de poeta e escritor no Brasil, exponencialmente nos dias de hoje, quando assistimos à ignorância ser elevada ao grau de predicado digno de ser ostentado com orgulho e altivez.

          A nação brasileira se encontra mergulhada no pior tipo de ditadura que se pode imaginar, pois foi legitimada pelo voto democrático. Ou seja, foi ungida pelas urnas, dentro de uma democracia letárgica, que não soube reagir diante do avanço de ideias autoritárias, defendendo o retorno de atrocidades como a tortura – evocada até por parlamentares dentro do próprio Congresso, sem qualquer tomada de efetiva providência.

          A síndrome do Covid-19, que assolou o Brasil no ano de 2020, encontrou nicho bastante favorável à sua multiplicação, ao contar com um país politicamente doente e incapaz de articular plano eficaz perante um vírus devastador, que expôs a existência entre nós de grupos negacionistas renitentes, provando-nos que todo ser humano distante da racionalidade se torna grande perigo para toda a sociedade, uma vez que não tem qualquer compromisso com a sociedade, o que prejudica, por exemplo, qualquer campanha de vacinação ou a adoção de medidas sanitárias de prevenção.

          Em panorama de tal complexidade, lancei em março de 2020 o livro infantil Agenda, que foi distribuído às pressas, antes do fechamento das unidades escolares, nas cidades de Santo Antônio do Monte, Brasília de Minas, algumas escolas de Moema, Contagem etc. Apenas recentemente, a ação de apresentação da obra foi retomada, levando-a Belo Horizonte, Capim Branco, Lagoa da Prata, núcleo de escolas do MST em Fortaleza – CE (que em agradecimento me presenteou com um boné do Movimento).

          Contudo, no auge da pandemia, debrucei-me sobre a produção de dois livros (na soma, quase 600 páginas), compostos por poemas, aforismos, novela e romance, umas 140 ilustrações, muitas fotos, visando à comemoração dos meus 70 anos (27 de abril de 2022), os 6.9 da minha esposa Nina e os 45 anos da edição do meu primeiro livro (1977).

          Dessa forma, à custa de muito esforço financeiro pessoal, alcanço a marca de 25 títulos (além de mais de 600 artigos e cerca de 1.400 editoriais publicados em jornais), programo a minha retirada das edições independentes no papel, premido de maneira significativa por razões econômicas: sou aposentado do INSS e a idade me cobra cuidados médicos e lúcida prevenção no tocante à saúde. Ou seja, não posso continuar gastando o dinheiro que não tenho em produto cultural (o livro) com o qual poucos se importam, enquanto a ignorância atrevida lhe prepara alguma fogueira nazifascista.

          A meta (de agora em diante) é me dedicar apenas à administração e aprimoramento de meu site, que está aberto ao público leitor desde 05 de junho de 2005, ostentando toda a minha obra poético-literária, inclusive os seis livros infantis que escrevi depois dos 56 anos. Lamentavelmente, nas últimas idas a escolas públicas de ensino fundamental, pude constatar a existência de alunos proibidos de participar da apresentação de minhas obras pelos pais, guiados por questões religiosas descabidas. É de cortar o coração ver o semblante triste das crianças impedidas de participar de sorteio de exemplares e tirar fotos ao lado dos coleguinhas, professores e o autor.

          Recentemente, fui procurado pela direção da Biblioteca Virtual Santo Agostinho (do Colégio Agostiniano São José, de São José do Rio Preto – SP), na qual serão postados livros de minha autoria, justificando por inteiro a iniciativa de modernização técnica que promoverei em meu site, tornando-o acessível a todas as mídias.

          Notoriamente, a dificuldade detectada no âmbito da literatura é tão avassaladora e dilacerante – à medida que é afetada pela visão comercial da indústria de entretenimento, onde não há espaço para o desenvolvimento de arte de qualidade reflexiva e voltada à sensibilização e libertadora conscientização das pessoas – que a saudosa escritora Lygia Fagundes Telles (1923/2022), pouco antes de sua partida rumo às dimensões imateriais do infinito eterno, escreveu: “Para quem escreve e para quem vai escrever o escritor num país desses?”

          Carlos Lúcio Gontijo

          Poeta, escritor e jornalista

          www.carlosluciogontijo.jor.br

                  10 de abril de 2022