Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                                    Carlos Lúcio Gontijo

 

Sob a certeza de que ruim com ele, pior sem ele, temos o maior temor de, ao comentar sobre o sistema público de saúde brasileiro – o maior do mundo -, servirmos de catapulta para determinados setores da elite brasileira, que alimentam a ideia de detonar a assistência médico-hospitalar à população mais humilde sem deixar nada no lugar.

Os que andam nas ruas e mantêm contato com as pessoas simples ou comuns desse país, “sem dinheiro no banco nem amigos importantes”, sabem que o atendimento no campo da saúde pública, além de precário, passou anos a fio por um explícito sucateamento, como se a maioria da população brasileira tivesse condições de custear planos privados de assistência médico-hospitalar.

Era a onda neoliberal, que privatizou desenfreadamente, sob o comando da mesma elite dirigente que se apoderou do comando das estatais e que acabou ganhando duas vezes: primeiro sugando e aniquilando-as; depois, tirando proveito inconfessável da privatização, que terminou rotulada de “privataria” pelos analistas que detectaram o cheiro putrefato de escandalosa e desvairada corrupção, em prejuízo de setores importantes como saúde, educação, habitação e segurança pública. .

Diante desse quadro, profissionais da área de saúde que prestam serviço em hospitais e postos públicos vivem assustados e perplexos com o crescimento da violência e das agressões verbais e físicas, que têm sofrido por parte da clientela angustiada com as filas cada vez mais longas.

Todavia, a realidade contundente e indubitável é que, infelizmente, o cidadão destratado e abandonado à própria sorte por falta de políticas públicas eficientes (pobre intelectual e materialmente, por não ter tido acesso democrático a ensino de qualidade e não perceber salário suficiente) já chega aos hospitais e postos insatisfeito com a sua condição de vida e, portanto, sem disposição para enfrentar as demoradas filas, muitas vezes carregando filho doente nos braços.

Em vez de se tomar, como primeira providência, a iniciativa de tentar inibir a violência contra os profissionais de saúde com a solicitação de rondas policiais, a medida mais recomendada seria a elaboração de um processo de atendimento mais competente na área da assistência pública de saúde, capaz de contribuir para a aproximação de médicos e enfermeiros e atendentes às sofridas comunidades periféricas.

A bem da verdade, as autoridades responsáveis pela administração da saúde pública brasileira já deveriam ter engendrado um plano de efetiva assistência médica preventiva, da qual fizesse parte a visita rotineira de agentes de saúde aos lares humildes dessa nação marcada por tanta desigualdade.

Com toda a certeza, houvesse o Brasil investido mais profundamente no médico de família, aproximando os profissionais de saúde dos aglomerados necessitados, não assistiríamos às revoltantes (e desumanas) filas e teríamos construído as bases de uma assistência médico-hospitalar de caráter preventivo e, portanto, mais eficiente e humana, abrindo perspectiva para que profissionais de saúde e pacientes se respeitem e convivam amistosamente, distantes dos interesses político-partidários, que jamais têm a suprema vontade de resolver o problema, mas tão-somente o desejo descompromissado (e facínora) de tê-lo como fonte temática de palanque eleitoral.

 

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista.

www.carlosluciogontijo.jor.br