Carlos Lúcio Gontijo
O Brasil perde mais uma Copa do Mundo de Futebol, fato que não teria a menor importância diante da realidade de que jogo é jogado, lambari é pescado e resultado algum em disputa futebolística é conquistado antes de o árbitro apitar o fim da partida. Contudo fica, mais uma vez, o alerta repetido nas duas últimas Copas, indicando-nos que não é mais possível convocar jogador sem as condições físicas ideais, como se deu com Kaká, nem privilegiar atletas brasileiros que atuam fora do Brasil, a ponto de a Seleção Brasileira se nos apresentar, como agora, com muitos jogadores reservas em seus clubes de origem mundo afora.
Não é mais justificável que continuemos a ver em campo atletas que não são sequer conhecidos pelo torcedor brasileiro, fenômeno proveniente da saída cada vez mais cedo de jovens valores para o exterior, o que pode determinar o enfraquecimento do relacionamento da Seleção com o grande público e, em futuro próximo, levar-nos a uma impensada e jamais imaginada quebra de interesse pelos jogos da histórica equipe canarinho.
Diziam os comentaristas que a Seleção Brasileira do treinador Dunga jogava melhor contra times que a atacavam, mas tal análise não passava de equivocada avaliação, pois não havia como contra-atacar com um meio-campo incapaz de fazer lançamentos e que, em matéria de jogada de linha de fundo, só contava com o lateral Maicon. Tínhamos um meio-campo típico da era Dunga, quando se iniciou a exaltação a jogador meramente valente e esforçado. Não é à toa que hoje assistimos a jogadores que correm, sem a produção de nada positivo, 10, 12 quilômetros por partida, em contraposição a tempos idos nos quais o que corria era a bola.
Os horizontes de 2014 se nos prenunciam nebulosos, pois caso não haja uma profunda mudança de métodos estaremos abrindo caminho para a perda de mais uma Copa do Mundo dentro do território nacional, como ocorreu em 1950 no Maracanã, ocasião em que fomos derrotados pelo Uruguai.
Dunga jamais contou com a aprovação da maioria dos torcedores brasileiros, apenas experimentou uma melhora no tocante à sua aceitação quando, corajosa e desabridamente, peitou a Rede Globo, que ao certo não entendeu o recado da população que anda cansada de tanta arrogância e caras e bocas de gente que faz da notícia tão-somente um detalhe para a exposição jornalística de seus interesses de cunho particular.
Ao final das contas Dunga vai embora, mas permaneceremos com a mesma estrutura, na qual o treinador é apenas a peça mais visível e frágil da engrenagem burocrática, vendo-se na obrigação implícita de acoplar interesses múltiplos e inconciliáveis, que vão desde o futebol em si até os acordos políticos e comerciais da CBF e descabidas exigências de imagens e entrevistas exclusivas de quem paga pela transmissão dos jogos.
E pelo jeito, amigo leitor, cara feia, mau humor e enfrentamento solitário não são ações suficientes para afastar as obscuras luzes que nos últimos anos tomam a Seleção Brasileira como uma espécie de vitrine, um circo, em que o técnico não passa de títere animador de auditório, numa constatação que nos leva a conjeturar que só nos resta o recolhimento à nossa insignificância e, humildemente, buscarmos a contratação do truão Diego Maradona.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
Da ALB-MARIANA, AVSPE e ACADSAL
www.carlosluciogontijo.jor.br