Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

O Brasil segue o seu calvário social doentio e enfermo, sob os males do fascismo resistente, que se especializou na naturalização da desigualdade, dos preconceitos e uma inconcebível visão racista da convivência em sociedade.

O tempo da democratização de acesso a ensino de qualidade permanece como providência apregoada e jamais materializada. Enquanto as transformações sociais são adiadas, gama imensa de brasileiros se nos apresenta como massa de manobra de políticos e demais forças de poder, depreciando as relações do trabalho com o capital e, dessa forma, gerando uma espécie de escravidão legalizada, por intermédio da qual o operário leva uma vida de necessidades apesar de todo o suor derramado no campo e nas indústrias de transformação.

O entrelaçamento de religiões e ações políticas vem empobrecendo o Estado, ao qual assistimos em processo de radicalização bem ao estilo talibã, ao imobilizar a sociedade em discussões que não conduzem a nação brasileira a lugar nenhum, a não ser ao atraso, colocando em pauta até a indumentária das crianças: os meninos vestem azul, e as meninas trajam rosa.

Há um inconfessável esforço na coleta de forças capazes de promover a fertilização dos fatores de desinteligência, que dependem fundamentalmente da condução do povo ao consumo de produtos culturais emitidos por uma indústria de eventos vocacionada a ofertar apenas entretenimento, que hoje é tratado como efetiva oportunidade de introdução à cultura.

Então, sob essa maquiagem, assistimos à queda no estoque de leitores, ao fechamento de livrarias, salas de cinema se transformando em templos religiosos, nos quais os pastores (antes cabos eleitorais), entre orações e exorcismos, fazem ininterruptas campanhas eleitorais e vão conquistando cada vez mais assentos nas casas congressuais, transformadas em anexo de seus apocalipses e fundamentalismos sem fim.

Inequivocamente, estamos diante de uma gente inzoneira e pouca afeita aos estudos, cercada por figuras toscas (os bem-amados); que menospreza a ciência e exalta o desconhecimento como patamar exponencial à germinação da liberdade advinda do “não saber”, que é incensado como predicado nesse reino paralelo (e fora da realidade), no qual a ignorância é iluminado predicado.

No dia 27 de abril de 2004 lançarei o livro “100 TEMPO” (meu 26º título) em Belo Horizonte. Será minha última noite de autógrafos, pois o livro “PALAVRAS SEM IMPRESSÃO” – já disponível aos casuais leitores no meu site – será publicado apenas no ano de 2029, como parte de cerimônia em torno da comemoração dos 50 anos de meu casamento com a querida Nina, quando o livro será distribuído às pessoas convidadas e, em seguida, levado às escolas e bibliotecas públicas.

O mar não está pra peixe, e nem para poetas e escritores. Sou aposentado do INSS e não disponho de recursos para continuar editando livros. Considero ter feito a minha parte e, sinceramente, já construí o meu legado: 27 livros, duas segundas edições, uma Coletânea em dois volumes (composta pelos cinco primeiros títulos). Além do mais, dentro da atividade jornalística, publiquei mais de 600 artigos e escrevi mais de 1.300 editoriais.

A atual conjuntura sociocultural e o ambiente “sucupiralizado” do meio político não são novidades para mim, que estou na criação poético-literária desde os 14 anos, que editei o primeiro livro em 1977 e que em 2029, aos 77 anos, apresentarei ao público o livro “PALAVRAS SEM IMPRESSÃO”, reafirmando aos leitores do meu trabalho cultural independente que A POESIA É A LINGUAGEM DA MINHA MEMÓRIA.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

4 de outubro de 2023