Carlos Lúcio Gontijo
Amanhã, dia 11 de maio de 2016, lançamos o nosso 18º livro. Ao longo dos anos, aprendemos que cultura não atrai levas de pessoas e não pode ser confundida com a moderna indústria de entretenimento. Platão, já sabedor dessa dificuldade, filosofou que, se um livro for lido por uma única pessoa além de seu próprio autor, já estará justificado o esforço despendido em sua elaboração.
Não existe dia bom para lançamento de livro e, assim sendo, o autor detecta que, independentemente de data, se dia de frio ou calor, se feriado, domingo ou segunda-feira, contará apenas com a presença daqueles que se fizeram receptivos desde o recebimento do convite anunciando o evento cultural mais importante que se pode presenciar: o nascimento de um livro.
Na verdade nem podemos relacionar solenidade maior que o lançamento de uma obra literária, pois batismo, casamento e ato político, por exemplo, podem ser desfeitos: a pessoa muda de religião, descasa e o político renuncia, muda de partido e desdiz o que disse, ao passo que, uma vez escrito, livro ganha vida própria e caminha vida afora com autenticidade e certeza plena de que vale o que nele está escrito.
Estamos na estrada literária desde 1977, quando lançamos nosso primeiro livro, “Ventre do Mundo” e, de lá para cá, assistimos ao avanço da cultura da imagem e, mais que isso, o aviltamento das ciências humanas em relação às exatas, com o conhecimento menosprezando a indispensável imantação proporcionada pela sensibilização, que lhe dá alma e sentimento através da poesia, da literatura, da música, do artesanato, das artes plásticas.
Dia 9 de maio de 2016 faleceu, aos 93 anos, o professor Aluísio Pimenta que honrou-nos com o prefácio de nosso romance “O contador de formigas”. Nossa amizade surgiu pelos contatos semanais que mantínhamos, uma vez que ele era articulista da página de Opinião do Diário da Tarde, no qual escrevia todos os sábados. Professor Aluísio era homem simples e quem conversava com ele nem imaginava que era autor de vários livros, que havia sido reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, que tinha passado pelo dissabor do exílio durante a ditadura militar, ficando 17 anos longe do Brasil, período em que participou de desenvolvimento de pesquisas biológicas em universidades do exterior.
Quando retornou ao Brasil, o professor Aluísio Pimenta foi ministro da Cultura, secretário de estado e reitor da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), onde procurou abrir espaço para professores negros, demonstrando sua preocupação com a falta de oportunidade enfrentada por nossos irmãos afrodescendentes. Em nosso site, temos postagem de foto nossa com o brilhante e gentil intelectual Aluísio Pimenta, além de inserção de pronunciamento dele sobre o nosso trabalho literário.
A inexorável cronologia do tempo não perdoa e, por estar a quatro décadas na labuta literária, passamos pela tristeza de assistir ao envelhecimento e à morte de muitos de nossos leitores arrebanhados com grande empenho neste Brasil de tão poucos leitores. E o mais grave é a constatação de que, no mundo da cultura, assistimos a uma quase inexistência de “reposição”. Ou seja, quem tem o hábito de frequentar espetáculos musicais de cunho mais de vanguarda, nota a existência de muitos músicos jovens tocando para uma plateia de meia-idade, cheia de cabeças brancas, numa prova da falta de renovação no campo dos apreciadores e fãs, como sempre nos afirma o amigo Mário Antônio residente em Belo Horizonte.
Contudo, como pusemos o pé na estrada da literatura e da poesia e não mais conseguimos tirar, ainda insistimos no lançamento de livros. E já temos programado para o ano que vem (2017), quando completaremos 40 anos de literatura e jornalismo, o lançamento de dois livros (uma obra infantil e um romance), alicerçados na crença de que livro é sempre horizonte ensolarado na prateleira de biblioteca à espera de alguém que o abra em um dia qualquer e receba a luz das palavras e ideias nele contidas.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
10 de maio de 2016.