Carlos Lúcio Gontijo
Não acredito que haja futuro promissor no âmbito da economia, caso prossigamos na luta por vantagens e direitos desprovidos de qualquer compromisso com o bem-estar coletivo e acima das possibilidades tanto do Estado quanto da sociedade.
Incrivelmente, há um desmesurado número de pessoas que sonham com o surgimento de um capitalismo onde todos tenham belo apartamento, casa de praia, vários carros na garagem, trajam roupas de marca e possam mergulhar, sem preocupação de castigo pela gastança, na compra e manutenção de uma série de artigos supérfluos, que muitas vezes jamais é utilizada, pois para nada serve, a não ser para o indivíduo se gabar de possuir.
Em respeito e a bem da verdade, deveríamos compreender que todos nós vivemos numa ilha chamada planeta Terra e da qual não temos como sair. Tudo o que extraímos da natureza para a nossa sobrevivência deveria ser utilizado com parcimônia e mais bem compartilhado e dividido com todos, uma vez que vivemos na mesma casa, no mesmo planeta, na mesma ilha.
Depois de tantos anos na labuta literária e jornalística, vejo-me tomado pelo desânimo, pois a sanha consumista só faz aumentar, na base do tenho, logo existo. As pessoas julgam que o segredo da felicidade se ressume única e exclusivamente na manutenção de alto padrão de compra, agindo como se o bálsamo do contentamento interior estivesse exposto, como uma espécie de mercadoria, nas prateleiras de alguma vitrine iluminada.
Assistimos à desconstrução diária de todos os caminhos capazes de nos conduzir à socialização da economia. O povo permanece sendo o outro, uma terceira pessoa amorfa e invisível, mas que leva a culpa de todos os males que nos afligem.
Por outro lado, todos os setores e áreas da atividade humana se partidarizaram e somente se propõem a conversar em defesa de seus próprios interesses e, como se fossem um partido político sem proposta nem horizonte tangível, só sabem dizer que são melhores que os demais, apesar de explicitamente a obscuridade do egoísmo se fazer refletir na face narcisista de todos eles.
Há algo de errado e inaceitável quando todos os trabalhadores e candidatos a entrar no mercado de trabalho desejam ou tenham como sonho passar em concurso e ocupar posto no serviço público, onde podem encontrar estabilidade e bom salário. Será que tal ocorrência não serve nem para o setor privado, em vez de reclamar dos preceitos inscritos na lei trabalhista brasileira, rever seus métodos e conceitos, onde diante de simples ameaça de crise econômica a primeira iniciativa é sempre dispensar o trabalhador, ainda que mal remunerado?
Talvez o mundo apregoado pela filosofia do materialismo exacerbado fosse mais fácil de ser vivido, porque bastaria estarmos perante uma pessoa com polpuda conta bancária para constatar a proximidade com uma pessoa feliz. Contudo, ainda bem que o estar de bem com a vida não pode ser dimensionado dessa maneira e, em muitos casos, a felicidade verdadeira está bem distante da exata proporcionalidade entre riso na face e disponibilidade financeira pessoal.
Se assim não fosse, o que seria de nós – povo brasileiro -, guardados sob a toga, ou melhor, protegidos pelo reluzente pálio da esperança, que não pode ser tomado nem julgado ou condenado pelos homens sem juízo que nos governam e que, quando se metem a organizar o nosso carnaval, o revestem de dourados superfaturados, esquecendo-se do principal, que é a valorização de compositores, poetas, passistas e sambistas, provenientes de favelas e morros desassistidos, onde o traje a rigor é a fantasia colocada sempre acima da renhida batalha pelo pão nosso de cada dia, que em todos os anos é levado pelas torrenciais chuvas de verão.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista.
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