Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                Carlos Lúcio Gontijo

 

          Políticos que têm medo da chamada voz rouca das ruas, que demora chegar-lhes aos ouvidos mantidos sob o ar refrigerado de seus gabinetes, precisam mudar urgentemente de comportamento ou quem sabe de atividade. Hoje, com o advento da internet e suas redes sociais, os homens públicos precisam ficar mais atentos, pois em muitos casos podem deparar-se com povo mais solto que reunido na rua e, portanto, mais acessível a manobras e interesses inconfessáveis por parte de falsas lideranças, que ao final da balbúrdia buscam usufruir de alguma vantagem junto à administração pública.

         O Brasil padece há tempos de meios de comunicação que pelo menos se fizessem guiar pelo princípio da verdade, ainda que sem a total isenção. A mídia partidária e contrariada com resultados eleitorais passou a promover noticiário de cunho seletivo, numa desinformação intencionalmente construída, através da qual encobre os podres de determinado segmento enquanto superestima os desvios e deslizes de seus desafetos, mesmo que tal procedimento a conduza ao mais cabal descrédito junto à população, que modernamente dispõe da comunicação virtual, responsável pela perda do monopólio por parte da grande mídia, que ainda não se deu conta do fenômeno da informática que a afeta e, assim, é desmentida fragorosa e constantemente.

       A dita imprensa investigativa – pela qual o Judiciário brasileiro em vários casos se permite pautar –, além de ter sua imagem maculada, cava com as próprias mãos a sua falta de credibilidade, quando deveria agir para servir de contraponto à colcha de retalho que é o mar de informações jornalísticas à disposição dos internautas, o que estancaria o declínio das tiragens do velho e bom jornal impresso diante da perda de leitores.

     O escândalo estampado nas páginas da revista “IstoÉ” desta semana (20 de julho de 2013) revela-nos uma ação continuada de corrupção, que somente pôde atuar por dispor de escudos protetores e vista grossa de todo o tipo e espécie, dentro daquela opção pela seletividade na escolha do que deve ser levado ao conhecimento da população, segundo os interesses político-partidários dos proprietários de veículos de comunicação – nas mãos de poucos grupos e famílias, que possuem liberdade de empresa e não estão nem aí para efetiva liberdade de expressão democrática.

     Na oportunidade, para que não pensem que estamos sozinhos na questão, deixamos aos nossos casuais leitores um trecho extraído de excelente artigo assinado por Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas, publicado no site do jornalista Paulo Henrique Amorim, o prestigiado “Conversa Afiada”, que nos dá bem a ideia de o porquê do metrô de São Paulo ser insuficiente e, ademais, esclarece aos jovens do Movimento Passe Livre (MPL) que eles, por involuntária desinformação, andaram montando acampamento e batendo em portas erradas. Vamos ao texto: “Ao assinar um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a multinacional alemã Siemens lançou luz sobre um milionário propinoduto mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo para desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens metropolitanos. Em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos, a empresa revelou como ela e outras companhias se articularam na formação de cartéis para avançar sobre licitações públicas na área de transporte sobre trilhos. Para vencerem concorrências, com preços superfaturados, para manutenção, aquisição de trens, construção de linhas férreas e metrôs durante os governos tucanos em São Paulo – confessaram os executivos da multinacional alemã –, os empresários manipularam licitações e corromperam políticos e autoridades ligadas ao PSDB e servidores públicos de alto escalão. O problema é que a prática criminosa, que trafegou sem restrições pelas administrações de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, já era alvo de investigações, no Brasil e no Exterior, desde 2008 e nenhuma providência foi tomada por nenhum governo tucano para que ela parasse. Pelo contrário. Desde que foram feitas as primeiras investigações, tanto na Europa quanto no Brasil, as empresas envolvidas continuaram a vencer licitações e a assinar contratos com o governo do PSDB em São Paulo. O Ministério Público da Suíça identificou pagamentos a personagens relacionados ao PSDB realizados pela francesa Alstom – que compete com a Siemens na área de maquinários de transporte e energia – em contrapartida a contratos obtidos. Somente o MP de São Paulo abriu 15 inquéritos sobre o tema. Agora, diante deste novo fato, é possível detalhar como age esta rede criminosa com conexões em paraísos fiscais e que teria drenado, pelo menos, US$ 50 milhões do erário paulista para abastecer o propinoduto tucano, segundo as investigações concluídas na Europa”.      

      Carlos Lúcio Gontijo

      Poeta, escritor e jornalista

     www.carlosluciogontijo.jor.br

     21 de julho de 2013