Carlos Lúcio Gontijo
A vida nos laceia a pele, amolece-nos o coração e nos amacia os passos, para que consigamos resistir às muitas solidões ao longo de nossa jornada terrestre, quando muitas vezes nos sentimos sozinhos ou apenas com a presença de alguns bons amigos, que nem chegam a ultrapassar o número de dedos de uma de nossas mãos.
Dia primeiro de julho deste ano de 2013 tivemos que ser internados no pronto-atendimento de minha Santo Antônio do Monte, onde sob a acolhida medicinal (e fraternal) de bons profissionais recebemos tratamento para conter fortes dores abdominais, cuja causa nos foi revelada mais tarde, após ultrassonografia (por iniciativa de Juliano) feita na aprazível cidade de Itapecerica, pelo médico Doryval, que não é Caymmi, mas cantou as pedras que ergueram morada em nossa vesícula.
Com diagnóstico nas mãos, buscamos imediato contato com Wilmar, conceituado médico, ex-secretário de Estado da Saúde de Minas Gerais e, o mais importante, amigo desde a pré-adolescência, quando sobre o horizonte do desinteresse material nascem as amizades mais puras e verdadeiras. Wilmar, logo avaliou o problema e, conduzido pela febre intermitente sentida por nós, providenciou-nos médico de sua confiança no município de Divinópolis, para onde nos deslocamos com o prestativo motorista Guilherme ao volante, a fim de irmos ao encontro do competente bisturi de Aldérico e da anestesia bem monitorada de “Betinho” (ao meu lado, no despertar anestésico), que prontamente nos livraram do mal.
Agora em repouso, passada a tormenta, pomos a imaginar o que nos moveu a dirigir até a bucólica Pedra do Indaiá com a finalidade de ministrar palestra a alunos do ensino médio da Escola Estadual Professor João Alves Filgueiras Campos, que estava previamente marcada para o dia 3 de julho, segundo entendimento com a professora Carolina (ex-funcionária da Secretaria de Cultura e Turismo de Santo Antônio do Monte), mesmo sob o efeito de remédios e depois de ter passado noite praticamente em claro, esperando por algum milagre ao raiar do dia.
E não é de ver que a intervenção miraculosa realmente aconteceu. Às 9 horas, os amigos Fernandinho e o maestro “Vai” estavam à porta de nossa casa para nos levar à Pedra do Indaiá, onde a palestra foi realizada com inteiro sucesso, dando-nos a entender que Deus se nos apresenta sempre disposto a abrir o seu leque de proteção divina a fim de dar à palavra e às ações de gente idealista a chance de florescimento em meio ao deserto de solidariedade cristã em que vivemos.
Pois bem, é nossa obrigação, nosso dever de ser humano e cidadão deixarmos aqui, neste democrático minifúndio gráfico, o nosso agradecimento a todos que se preocuparam conosco em um panorama social de tantos apelos de entretenimento e diversas prioridades pessoais, pois temos a absoluta certeza de que liberar o indispensável sentimento de gratidão que nos habita faz parte do processo de cura total que está a caminho.
Para terminar, fechando nosso sincero agradecimento a todos, derramamos no papel, ou melhor, na tela do computador, o poema PRIVACIDADE publicado no romance “Jardim de Corpos: Aonde vou levo minha casa/ Minha intimidade está no outro/ Perco privacidade se me escondo/ Ela existe enquanto me revelo/ Por autoestima velo o próximo/ Como se cuidasse de mim mesmo/ A amizade é joia de anjo/ Arranjo divino para nossa sobrevivência.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
8 de julho de 2013