Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Numa sentada ininterrupta (e avidamente) tomei a leitura do romance “Céu de Luz Marina”, novo romance de Ádlei Carvalho, a quem conheci há alguns anos graças à esposa Lílian, que um dia se deparou com o meu livro “Jardim de Corpos” na biblioteca do UNI-BH, na capital mineira, e resolveu comentar com o marido, que procurou fazer contato comigo – e assim nasceu uma sincera amizade.
De lá pra cá, eu já tive a honra de prefaciar o seu excelente romance “Triângulo Vermelho”, e ele me contemplou com a lavra de magnífico posfácio, para o meu livro “Menos Olhos, Menos Chuva & Grãos de Loucura”. Para mim que estou na estrada poético-literária desde 1977 (quando publiquei o primeiro livro), encontrar autor do potencial do Ádlei Carvalho – com tanto caminho pela frente – é um alento a lastrear a certeza de que a chama do idealismo criativo se manterá acesa.
O romance “Céu de Luz Marina”, do jovem poeta e romancista Ádlei Carvalho (nascido em 1969), além de necessário, é uma espécie de meteoro a espargir horizontes de sensibilidade e esperança no âmbito do ofício da arte da palavra escrita. A emocionante história de duas meninas que cresceram juntas nos rincões interioranos de Minas Gerais nos anos de 1940, lá pelas bandas da Vila de Biribiri, preciosa réstia de chão incrustada na Serra do Espinhaço, é prova inconteste do amadurecimento do autor Ádlei Carvalho, que oriundo da poesia se nos apresenta autêntico mestre no discorrer da prosa poética.
Num tempo em que O MUNDO ESTÁ CHEIO DE GENTE COM DIPLOMAS E HONRARIAS INTELECTUAIS DANDO AULA DE IGNORÂNCIA, Ádlei Carvalho nos surpreende com um romance mergulhado em valores relativos à dignidade e à democrática convivência em comunidade; preceitos sobre os quais se firma a indispensável prática do amor ao próximo. Temos no romance “Céu de Luz Marina” um tear de sensibilidade gráfica, que nos remete à brevidade da vida e, ao mesmo instante, nos alerta sobre a necessidade de aproveitar, profundamente, todas as oportunidades ao lado das pessoas amigas e entes queridos.
Livros como o romance “Céu de Luz Marina” são de suma importância numa sociedade em que OS FILHOS TÊM OS PAIS COMO ACESSÓRIOS E, AO PERDÊ-LOS, DESCOBREM NÃO TER “ESTEPES”, PARA CONTINUAR A JORNADA. Coincidentemente, a história transcorrida durante a Segunda Guerra Mundial é narrada e lançada por Ádlei Carvalho neste ano de 2023, quando o planeta Terra assiste ao bombardeio de Israel sobre a Faixa de Gaza, em resposta a ataque terrorista, enquanto Rússia e Croácia travam outro confronto sanguinolento, colocando em dúvida o avanço do decantado processo civilizatório da raça humana, que insiste em dar ênfase a uma irracionalidade cada vez mais extrema.

“Céu de Luz Marina”, como acontece com todos os livros do autor Ádlei Carvalho, tem o seu próprio espaço de ambientação, mas como sempre o seu núcleo é a família: “Nos amamos, nos divertimos, nos amparamos e, de vez em quando, também brigamos”. Em síntese e em louvor, “Céu de Luz Marina” joga em meio ao mar de suas páginas constantes lembretes sobre a importância de todos nós na construção da trajetória terrestre dos seres humanos, onde cada um cumpre a sua missão e deve absorver a dádiva da vida intensa e espontaneamente, pois como bem diz o romancista Ádlei Carvalho “o tempo não devolve o que poderia ter sido”.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista