Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                            Carlos Lúcio Gontijo

       Não gosto e sou avesso a todo e qualquer radicalismo, pois é um posicionamento destrutivo que para nada serve. O radical não tem adversário, mas inimigo; situação que o torna potencialmente capaz de qualquer ato, sob o objetivo de materializar seus interesses. A cobertura seletiva dos escândalos políticos por parte da chamada grande imprensa brasileira me fez ficar sem jornal para ler, pois a parcialidade que tanto me incomoda é fator de desinformação de significativo número de pessoas, que saem repetindo o discurso de uma nota só emitido pelos colunistas, que encaram com naturalidade e afã o aluguel de suas penas aos proprietários de veículos de comunicação, auxiliando-os na construção de uma imprensa completamente partidária, agindo em substituição à inexistência de oposição competente ou pelo menos atuante no Brasil.

       O Natal está chegando e me permito acreditar que, se alguém levantar a hipótese de que a “estrela guia” é uma alusão ao Partido dos Trabalhadores (PT), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgará a questão e cassará, sem acanhamento algum, o símbolo natalino, pois é característica de relevo do caráter do radical não se incomodar em se nos apresentar completamente ridículo.

       Meu palanque é gráfico, ou seja, é feito de artigos e livros, não visualizo nos partidos políticos brasileiros qualquer alicerce ideológico ou programático. Neles, tudo parece ser arremedo ou ter raiz no improviso, na embromação, no engodo. Na máquina pública, é o rabo que abana o cachorro, com os governantes aprisionados aos conchavos eleitorais, às câmaras, às assembleias ou ao Congresso, nos quais a democracia que se pratica é pautada em descomunal vale tudo, como se o bem fosse apenas um apêndice do mal, que não pode sequer passar pela ameaça de ser contido ou coibido, pois tal ato seria (e o é) tomado como afronta ao regime democrático. Daí a dura realidade de a democracia brasileira arrastar grilhões e correntes, precisamente por ter como premissa a falácia inconsequente de que é proibido proibir e que é a impunidade e a não cobrança de deveres e obrigações que dá ao cidadão a magia de ter asas para voar livremente.

       Já fui ao Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, com público de 130 mil espectadores. Hoje, o mesmo estádio de futebol comporta apenas 70 mil. Ou seja, as pessoas ficaram mais espaçosas, seus traseiros cresceram devido às horas a fio diante do computador e à comida fast-food. A lei do menor esforço é predominante em nosso tempo: as pessoas querem emprego, mas não trabalho; querem acesso à propalada indústria do entretenimento, onde não há lugar para apresentação artística de sentido cultural mais bem elaborado, pois a ordem é não incomodar o público com qualquer apelo de proporção reflexiva.

       O filósofo francês René Descartes (1596/1650) escreveu em latim “Cogito, ergo sum”: Penso, logo existo. Contudo, nos dias de agora, de computadores e toda a forma de contato sem tato nem proximidade, aquela máxima genial ganhou nova versão: não penso, logo existo. E é assim, sem pensar, sem analisar nem refletir, que se leva a vida, que se emitem opiniões e se fazem julgamentos rebaixados ao nível da indústria de entretenimento, que atrai público e, ao mesmo tempo, menospreza gente!

       Carlos Lúcio Gontijo

       Poeta, escritor e jornalista

       www.carlosluciogontijo.jor.br

      5 de dezembro de 2013