Carlos Lúcio Gontijo
Quando de meu retorno para Santo Antônio do Monte, terra de semeio de minha infância e viçar de minha adolescência, contratei o pedreiro Osvaldo Faria como responsável pela reforma a ser feita na casa que pertenceu à dona Benvinda e ao senhor José Rodrigues, pais de minha querida esposa Nina. E jamais imaginei que daí fosse nascer uma amizade alicerçada em laço de respeito e família, o que me dá uma grande alegria em tempos de vale tudo e nada vale.
O amigo Osvaldo logo me falou da existência de um estabelecimento comercial pertencente a seu filho Evaldo, com a novidade para cidade do interior de funcionar de segunda a domingo, notícia que me soou aos ouvidos como um refrigério, pois recém-chegado da capital, com dezesseis anos de trabalho madrugada adentro em jornal, trazia comigo o jargão que usava para convidar os amigos a uma rodada de cerveja em pleno início de semana: “vamos, gente, a vida faz aniversário todos os dias, inclusive na segunda-feira!”
Foi assim, sem tirar nem pôr, que passei a frequentar o Casarão Pizzaria, onde percebi o interesse do proprietário Evaldo pelo mundo das artes (hoje ele preside a Associação dos Amigos do Museu Magalhães Pinto), o que me encorajou a lhe solicitar, no final do ano de 2013, em relação a patrocínio de um jantar para a família que melhor decorasse a fachada de sua casa por ocasião do Natal. Evaldo não se fez de rogado e, prontamente, me atendeu, visualizando a legitimidade da proposta.
No Casarão Pizzaria, que meu coração prefere denominar “Casarão do Evaldo”, não existe arrastar de correntes; grilhões, algemas e mordaças, nem pensar… Ali repousa democracia, irmandade e celebração da vida, que somente se transformam em realidade através do espontâneo abrir de espaço ao horizonte do sorriso de todos e qualquer um que se dispuser a derramar no recinto os divinais licores da confraternização.
Diante de tudo isso, ao tomar conhecimento de que o amigo Evaldo pretende encerrar as atividades do Casarão Pizzaria e retornar à nossa libertária Belo Horizonte, cidade da qual viemos quase que num mesmo momento, comecei a conversar com as pessoas a respeito e pude perceber a importância de sua atividade para a gente de Santo Antônio do Monte, pois em todos os comunicados extraoficiais pude perceber o olhar atônito, o entristecer e a silenciosa pergunta de o porquê de tal decisão. Todas as pessoas, indistintamente, se me apresentaram em transparente sentimento de perda no campo das ideias, da novidade e, acima de tudo, do visível descarrilamento de um trem cultural que começava a traçar as linhas de um futuro de encantamento, de canto, sensibilidade e poesia.
Pois bem, o Evaldo está marcando uma “cervejada” para o próximo dia 18 de janeiro, mais um previsível sucesso anunciado, mas que tal os seus frequentadores cotidianos e casuais tomarem a oportunidade como uma ferramenta benfazeja para revelar, ao esforçado e bem-intencionado Evaldo, o real significado do Casarão Pizzaria, tanto para as suas vidas quanto para a própria cidade, gritando de maneira uníssona e em coro: “Não desista, amigo Evaldo; fica Casarão!”
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
11 de janeiro de 2014