Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                                    Carlos Lúcio Gontijo

 

A continuidade da ocorrência de mortes prematuras na camada mais jovem da população terminará por conseguir o feito de diminuir o índice de expectativa de vida da população brasileira, que hoje ultrapassa os 70 anos.

Sociólogos e pesquisadores assinalam que, nos morros e favelas, a morte de homens jovens, que têm a vida ceifada precocemente, já pode ser observada por meio do grande número de viúvas, com algumas dessas jovens – que perdem seus companheiros na guerra sem fim, instalada no submundo do narcotráfico e do crime organizado – assumindo “postos” no mundo do crime como forma de sobrevivência.

Lamentavelmente, parece que a juventude brasileira firmou um pacto com a morte, transformando o triste fato (antes raro) de pai enterrar filho uma ocorrência natural. Os jovens são as principais vítimas da violência em que vivemos e que coloca o País numa paisagem de guerra civil não declarada, mas nem por isso menos sanguinolenta.

O Brasil precisa elaborar uma política inteiramente voltada para a juventude, que não pode continuar sem caminho e sem perspectivas. É a sensação de completa falta de horizontes que leva o jovem para o mundo do crime, do qual só se livra quando preso antes de ser morto.

Compete ao governo e à sociedade tirar os jovens da mão dos agentes do submundo do crime, que lhes acenam com dinheiro fácil ou meio mais rápido para adquirir as roupas e os tênis de marcas famosas aos quais são levados a apreciar pelos órgãos de comunicação e divulgação da onda consumista em que se afoga a humanidade.

Logo no início do combate ao atual estado de coisas, é preciso que se abram escolas de ensino profissionalizante e praças de esporte Brasil afora, mais acentuada e principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos, pois os jovens precisam aprender a valorizar a própria existência e, ao mesmo tempo, ter apreço pela vida alheia.

Constatações como as que nos dão conta de que os jovens são os que mais perecem em acidentes de trânsito (fazendo de automóveis e motos um mecanismo de sofrimento e morte) têm como raiz a descrença em um futuro melhor, da qual gera o sentimento mórbido de que não há diferença entre morrer ou viver, o que também explica o crescimento da participação de menores em crimes cada vez mais violentos, uma vez que o caminho da violência lhes tira a noção de limites e os faz se perceberem como seres vivos à medida que impõem aos que os rodeiam os mesmos castigos aos quais se encontram submetidos pelo pelourinho social da indiferença e da mais absoluta falta de oportunidades.

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br