Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

Dia 12 de junho de 2010, recebemos a notícia da morte e sepultamento de João Bosco Petrus, funcionário do setor de impressão da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, ao qual conhecemos nas oficinas do extinto jornal Diário da Tarde, logo no início de nossa carreira jornalística, há 33 anos. Joãozinho, como era chamado, fazia jus ao diminutivo por sua baixa estatura física, que ficava a quilômetros de distância de seu elevado e abrangente conhecimento em relação aos segredos técnicos da impressão gráfica.

No ano de 2007, ao lançarmos o romance “Lógica das Borboletas”, livro impresso nas máquinas da Imprensa Oficial, contamos com o zelo profissional do amigo Joãozinho, que sempre nos prestigiou com a sua presença em nossas noites de autógrafos e, mesmo quando não tinha como comparecer, jamais deixou de nos adquirir um exemplar, como aconteceu em 2009 no lançamento de “Jardim de Corpos”.

Joãozinho, sob o efeito letárgico de maligno enfisema pulmonar, que agora o levou à morte, não ostentava estado de saúde suficiente para estar ao nosso lado na Associação Mineira de Imprensa, onde ocorreu o evento, mas mandou que alguém adquirisse um exemplar em seu nome. Ou seja, o inveterado fumante Joãozinho também cultivava o gosto pela leitura – um raro fenômeno no Brasil, país em que baixa escolaridade e menosprezo pelos livros caminham de mãos dadas, conduzindo milhares de brasileiros à ignorância e a não ter a devida capacitação educacional para entender e muito menos absorver o conteúdo de qualquer texto que leia.

Não é fácil para nós, como amigo, poeta e escritor, recebermos a notícia de morte de leitores que nos acompanham desde 1977, quando lançamos o nosso primeiro livro, pois sabemos da escassez de pessoas que apreciam uma boa leitura e que, para nós autores, são como o estoque de sangue para os centros cirúrgicos. Ou seja, sem o leitor o livro perde a razão de ser.

Infelizmente, temos observado que as pequenas filas nas muitas sessões de autógrafos são formadas por gente de cabelos grisalhos, uma vez que os jovens se entregaram à cultura da imagem e raramente leem trabalho impresso – nem mesmo jornal ou um simples gibi.

Há quem diga que o preço dos livros é uma barreira à ampliação do número de leitores no Brasil, mas cremos que, acima de tudo, o problema reside no fato de o livro não ser tomado como prioridade pela população brasileira. São poucos, ou melhor, raríssimos os cidadãos como o falecido Joãozinho, que mesmo diante da perda do fôlego provocada por corrosivo enfisema, insistia em buscar a longa caminhada possibilitada pelo enredo contido nos livros.

João Bosco Petrus, o nosso estimado Joãozinho se foi para dimensão invisível aos nossos olhos prisioneiros da cultura alicerçada na matéria. Deve estar reivindicando algum posto na gráfica celestial que imprime as cores da natureza, enquanto folheia as páginas de nuvem do livro dos mistérios da prometida vida eterna.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, jornalista e escritor

Da ALB-MARIANA, AVSPE e ACADSAL