Carlos Lúcio Gontijo
Neste ano de 2017 completamos 40 anos de atividade literária, a contar do lançamento do primeiro livro em 1977, intitulado “Ventre do mundo”. Sabedores das dificuldades de nossa caminhada, fizemos questão de meter os braços no trabalho jornalístico, chegando a trabalhar em três veículos de comunicação ao mesmo tempo. Ou seja, saíamos de casa em torno 10/11 horas da manhã e retornávamos às 5/6 horas do dia seguinte. Dessa maneira, conseguimos manter nossa carreira de autor independente de forma profícua e honesta, sem a necessidade de ficar de pires na mão diante de quem tem a cultura como algo pra lá de dispensável e certamente não nos auxiliaria em nada.
O ambiente literário é o mais povoado de gente estranha ao meio. Pessoas que buscam tão-somente o status da aproximação com autores idealistas se colocando até na condição de editores, sob o exclusivo objetivo de explorar o sonho de ter livro impresso que acompanha todos os escritores ou poetas verdadeiros. Ir ao encontro de inscrição em academias de letras é a meta de muitos, a ponto de algumas cidades terem mais de uma entidade cultural, a fim de abrigar os interessados, que uma vez inseridos no contexto não comparecem a lançamentos de livros nem se dão ao trabalho de ao menos curtir ou compartilhar no facebook o esforço editorial de seus pares. Mais grave ainda é quando a própria entidade cultural se transforma em propriedade de meia dúzia, que fica trocando figurinha e se autopremiando com medalhas e diplomas criados pelos próprios condecorados.
Todavia há gente séria no meio, como a poetisa portuguesa Carmo Vasconcelos e sua equipe de colaboradores (Revista “eisFluências”, Fênix e Antologia “Logos”), que há anos abrem espaços a escritores e poetas da comunidade lusófona, em formato democrático e absolutamente respeitoso. A poetisa e advogada Delasnieve Daspet (Campo Grande/Mato Grosso do Sul) é igualmente grande ativista e divulgadora cultural; a poetisa Efigênia Coutinho (Camboriú/Santa Catarina), que levou obra nossa e de outros autores à biblioteca de Nova York; a incansável poetisa Rosimeire Leal da Motta Piredda (Vila Velha/Espírito Santo); a poetisa Sônia Veneroso, que luta bravamente pela Academia Santantoniense de Letras (ACADSAL) e, ainda, a bem organizada Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO), que está sempre engendrando meios de incentivar e apoiar seus acadêmicos.
Então, entre atropelos e tantos pesares, não ousamos reclamar da sorte, pois bem ou mal atingimos a marca de 20 títulos, duas segundas edições e participação em várias coletâneas. Comemoraremos 40 anos de atividade literária com dois lançamento: um romance (“Desmemória de horizonte”), diagramado por Antônio Jabur Neto e ilustrado com mais de 30 fotos do jornalista Hamilton Flores; e a obra infantil (“Beijoaria”), ilustrada e diagramada pelo comunicador visual Nivaldo Marques Martins.
Estamos contentes, gratos a todos que nos estenderam a mão e, ao mesmo tempo, preocupados, uma vez que no limiar dos nossos 65 anos (mesmo conservando em nós a sublime claridade da poesia e da prosa) não ostentamos mais a mesma energia física. Ademais, somos aposentados do INSS e não nos é aconselhável persistir na prospecção de seguidas edições, consumindo nossas parcas economias. Dormita em nós a consciência tranquila de que sempre trilhamos pela transparência e entrega total à missão proposta pelo dom especial com que nascemos, o que por si só já é um grande diferencial num mundo em que muita gente não é o que diz ser, mas pensa ser o que diz e, para arrematar, exerce desabridamente o que nunca foi.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
08 de janeiro de 2016.