Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

 

     No dia 8 de fevereiro, depois de exames médicos, fui ao bar do Zé Reis no bairro Eldorado, em Contagem, cidade na qual morei durante muitos anos. Pelo caminho encontrei Ana Lúcia, ex-vizinha de andar de prédio e, em seguida, provando quanto a nossa grande Belo Horizonte é uma aldeia, dei de cara com o amigo poeta e contador Luiz Cláudio, em plena Avenida João César de Oliveira. Ele estava na exaustiva tarefa de distribuir currículo em agências de emprego, pois se acha inserido no bloco de desempregados cada vez maior Brasil afora, sob o comando de políticos que se engalfinharam em disputa irresponsável pelo poder, jogando o país no caos econômico de maneira intencionalmente programada e, agora, não conseguem tirá-lo do fundo do poço.

     Mais tarde, tomando a minha cervejinha estive com o professor de história Luís, ao qual conheço graças aos artigos que eu publicava toda quinta-feira no indelével Diário da Tarde. Luís repercutia meus artigos em sala de aula e certa feita resolveu entrar em contato comigo. Pois bem, ele me confessou estar completamente decepcionado em relação aos rumos tomados pela política brasileira, na qual maus políticos (auxiliados por uma imprensa descompromissada com os destinos da nação) assaltaram a democracia e montaram um arremedo de poder administrativo, onde tudo é permitido, menos pensar nas camadas mais pobres da população.

Corria uma brisa fresca arrefecendo o calor e, de longe, eu avistava a enorme árvore que sustenta o ar bucólico que reina na Praça Paulo Pinheiro Chagas. Balbuciei baixinho: “boa-noite dona árvore!” Seus galhos sacudiam ao vento como se estivessem me respondendo e até mesmo me reconhecendo como seu benfeitor; lembrando que há muitos anos, com apoio do Alô! Alô!, famosa e prestigiada coluna do Diário da Tarde, eu a salvei.

     Naquele espaço denunciei em dois dias seguidas a existência de um grupo de mendigos que estava vivendo na Praça Paulo Pinheiro Chagas e havia escavado um buraco na base do tronco da enorme árvore, mantendo ali uma espécie de fogareiro para fazer ou mesmo esquentar restos de comida. A fornalha improvisada no interior do tronco não sofria os efeitos do constante vento no local e, assim, ficava sempre acesa, anunciando rápida morte da bela árvore, que só não aconteceu porque a prefeitura acolheu com presteza a denúncia, convocando o seu pessoal técnico para imediata ação. O buraco no tronco foi limpo e preenchido com uma argamassa apropriada, à qual a árvore se adaptou bem e está lá com toda a sua frondosa imponência.

     Sem dúvida alguma, o caso dessa árvore serve para ilustrar o que vem acontecendo atualmente no Brasil, ao qual atearam fogo infernal e a população – ordeira e desprovida de consciência política – não se dá conta, aceitando passiva e pacificamente as imposições de um autoritarismo diabólico, como se do tacho de maldades em fermentação na maquiavélica esplanada dos ministérios pudesse advir algum milagre benfazejo.

 

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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9 de fevereiro de 2017