Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

         Nivaldo Marques, diagramador e ilustrador da maioria de nossos livros, sensível parceiro de nossa obra literária, acabou de dar por encerrado o projeto gráfico-visual que lhe encomendamos, valorizando e enriquecendo as ilustrações elaboradas por Vilma Antônia da Silva, para o livro “Lelé, a formiga travessa”, que assim está pronto para ser impresso. Nivaldo, agora, passa a cuidar de mais uma obra, “Poesia de romance e outros versos” (ilustrada por Amanda Quirino), para que em breve façamos um lançamento conjunto.

        Tudo então, pelo menos no nosso caso, poderia estar a mil maravilhas, todavia não somos uma ilha e o triste quadro social que nos rodeia se transforma em imensa nuvem escura no horizonte de nosso caminho. É cada vez mais deprimente assistir à violência derramada pelas imagens das emissoras de televisão brasileiras, passando-nos a clara ideia de que vivemos uma sanguinolenta guerra civil não declarada oficialmente.

         Descontentamo-nos com a quase inexistência de bons veículos de comunicação, que optaram por se tornar seletivos na edição de seu noticiário. Ou seja, salientam a denúncia de escândalos políticos de alguns partidos em especial, ao passo que escondem as falcatruas das agremiações que lhe são simpáticas.  No entanto, como desgraça pouca é bobagem, temos os pequenos jornais do interior, que como os grandes se nos apresentam amplamente tendenciosos, abrindo espaços muito mais para cobrir a sociedade vaidosa que a comunidade laboriosa. Trocando em miúdos: privilegiam os que detêm poder e dinheiro, em detrimento de cidadãos que realmente contribuem para a criação de ambiente propício à harmônica convivência entre todas as classes sociais.

         Lamentavelmente, mesmo nas pequenas cidades, os veículos de comunicação não conseguem agir no sentido de ampliar o conhecimento da população sobre si mesma. É por isso que muitos poetas, escritores, pintores, músicos, cantores, compositores, atores, artesãos etc. são completamente desconhecidos nas cidades em que moram e vivem, passando a vida inteira com o seu dom aprisionado em gavetas solitárias, como se ainda estivéssemos sob o domínio da censura e da falta de liberdade de expressão.

         Não carregamos no peito qualquer ilusão no tocante ao mundo cultural. Tudo o que sabemos é que a única maneira de manter viva a nossa caminhada reside na força de nossas próprias pernas, pois ninguém virá em nosso socorro. Sabedores de tamanha realidade perversa, cuidamos de eleger a literatura como prioridade, em nossa passageira existência terrena e, dentro dessa meta, não medimos sacrifício para editar nossos livros, pelos quais abandonamos tanto viagens turísticas quanto idas a praias paradisíacas da moda que jamais termina seu inventar de novidades a cada novo verão.

          Carregamos em nós plena consciência de que nem é preciso ser escritor ou poeta para tomar assento em entidade acadêmica. Há quem seja elevado ao grau de reluzente intelectualidade por ter pronunciado uma série de discursos (ainda que sem pé nem cabeça) ou mesmo pelo simples fato de ser bem situado financeiramente. Em síntese, ao final das contas, a cultura é frequentada por pouca gente que de cultura é. Parte significativa (dos que se propagam amantes do meio cultural) deseja apenas servir-se, vaidosamente, dele sem a ele nada dar em troca – sequer talento, ou algum apoio a quem o tenha! Notadamente, são bem-sucedidos nesse comportamento predador, pois o prato da cultura, graças ao devotado trabalho dos autores independentes, sem selo editorial nem cobertura dos meios de comunicação, nunca está vazio.

           Carlos Lúcio Gontijo

            Poeta, escritor e jornalista

            www.carlosluciogontijo.jor.br

              Dia 10 de maio de 2013