Carlos Lúcio Gontijo
O materialismo projetado pelo capitalismo de consumo exacerbado, que sequer pode ser sustentado pelas riquezas naturais do planeta Terra, nunca descuida de incrementar o empobrecimento cultural da população, o que é determinante para a constatação de que os salários pagos às áreas mais relacionadas com a intelectualidade (professores, jornalistas, sociólogos, historiadores, filósofos, bibliotecários etc.) sejam sempre insuficientes e baixos, exigindo extremo idealismo de quem ousa tentar ganhar a vida exercitando-a.
Encontramos há pouco tempo com jovem formado em História, casado e pai de dois filhos, que desistiu de seguir carreira ou, melhor dizendo, antes mesmo de terminar o curso observou que não encontraria caminho fácil pela frente. Seus melhores professores, os mais gabaritados, padeciam do mesmo sofrimento que aqueles que praticamente nada ofereciam aos alunos. Os mestres andavam de ônibus e alguns, os mais devotados à profissão, iam ao encontro de mais conhecimento em cursos de pós-graduação, seminários etc., mesmo sob a certeza de não obtenção de qualquer compensação futura no que diz respeito à questão salarial.
O que o desalentado jovem descobriu era que não detinha o mesmo espírito idealista de seus professores, alguns com dezenas de livros editados, e que os mestres casualmente bem-sucedidos se achavam entronizados em cargos públicos federais e estaduais, sob o lastro de que estavam (ou estão) contribuindo para a defesa do patrimônio histórico brasileiro, quando na verdade a única preservação que garantem é a manutenção do secular culto à burocracia dispendiosa e inócua, uma faceta nunca revelada em longas e sonolentas palestras, às quais a sabedoria popular costuma rotular de história para boi dormir.
Ambiente muito parecido é registrado no meio literário, onde poetas e escritores, além de não contar com leitores em grande número, são empurrados, devido ao baixo investimento editorial, para a produção independente, onde os altos custos de impressão colocam à prova o idealismo: uns nem chegam a editar e outros editam um, dois livros, e logo abandonam a arte da palavra escrita, que sucumbe diante do avanço da preferência pela comercialização do grotesco e da louvação à imagem, como se tivéssemos regressando ao tempo em que nos expressávamos através de desenhos nas cavernas.
Sabedores de que patrocinadores não existem (nem caem do céu) e que veneração pela cultura é mesmo outra história para boi dormir, principalmente no âmbito político, preparamo-nos solitariamente – movidos pelo incontido idealismo que nos levou a tantos livros – para uma segunda edição de “Duducha e o CD de Mortadela” e dois novos títulos: “Poesia de romance e outros versos” (com ilustrações de Amanda Quirino) e “Lelé, a formiga travessa” (ilustrado por Vilma Antônia da Silva). No mais, é como diz verso de música do compositor Martinho da Vila: “E quem quiser ser como eu, vai ter que penar um bom bocado”.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista