Carlos Lúcio Gontijo
A sociedade brasileira como um todo precisa rever a sua relação com a coletividade que não recebe a força necessária porque o individualismo se sobrepõe e cada cidadão tem como preceito julgar que tudo está bem quando ele, individualmente, se sente realizado. Ou seja, a condição socioeconômica das pessoas que vivem em seu entorno não é levada em consideração.
Diante do hedonismo praticado de maneira desabrida e elevado ao nível de alicerce da construção de convivência coletiva, não podemos nos surpreender com os escândalos que surgem de forma rotineira na área da administração pública, onde o que é de todos é tratado como se fosse coisa de ninguém.
Ouvimos falar constantemente em reformas política e tributária como se elas fossem uma miraculosa panaceia para o fim de nossos problemas, quando na verdade o que temos que enfrentar é a melhoria da educação de nossa gente, que hoje busca no aprendizado escolar não o conhecimento, mas apenas um diploma para se dar bem, com as escolas aceitando essa premissa e propagando o ensino que administra como ferramenta garantidora de sucesso e caminho certo para o almejado status de fama e palco de celebridade. Assim sendo, as escolas deixaram de ser instituições de ensino e se transformaram em patamar preparatório de introdução de jovens estudantes na moderna civilização em que a marca registrada é propiciar ao cidadão acesso à vanguarda cultural e ao aparente domínio de tudo, sob a égide do mínimo esforço intelectual.
Assistimos então ao empobrecimento da cultura elevada, consistente e na exata expressão da palavra, que é vista como fator inibidor de veloz popularização ou universalização cultural da literatura, da pintura, da música, do cinema e demais manifestações artísticas. Temos assim o enaltecimento da superficialidade, da futilidade e da versão simplificada de tudo: é como se de repente resolvêssemos acabar com a existência da crase devido à constatação da dificuldade de os alunos aprenderem o seu uso correto.
Optamos de maneira clara e explícita por uma sociedade em que não cultivamos a menor responsabilidade para com o outro, fazendo-nos cada vez mais distantes do amor ao próximo decantado por Jesus Cristo e, no mesmo passo, caprichamos no estabelecimento de uma educação que abraça a civilização do espetáculo e do entretenimento, na qual a imagem e a cor são colocadas acima do conteúdo, pois não basta oferecer o atrativo da luz do conhecimento, é necessário o circo, é preciso encenação – o professor tem que possuir dotes contorcionistas e se utilizar de todos os recursos capazes de fazer a sala de aula não parecer sala de aula e conduzir os alunos a sentirem-se espectadores do espetáculo social a que todo cidadão tem direito, preparando-os para, quem sabe, seguir carreira política e mais tarde experimentar o supremo prazer de requisitar todo o cardápio de iguarias e especiarias exigido pelos leões que habitam os palácios governamentais Brasil afora, inclusive o Maranhão da família Sarney e outros coronéis, pinçados de nosso quadro social e democraticamente ungidos pelas urnas para o exercício de legítima ditadura.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
09 de janeiro de 2014.