Carlos Lúcio Gontijo
Da minha parte sou poeta
Sofro da arte de ficar nas coisas
Está próximo o momento de eu desligar o meu computador, ficando uns dias fora do ar até a transferência de minha “linha” – junto à operadora que me assiste – para Santo Antônio do Monte, onde eu e Nina (mais a cachorra Kika, que está conosco há 15 anos) passaremos a residir, indo ao encontro do meu pai José Carlos Gontijo e do chão de minha infância e adolescência.
Como o verso acima, transcrito de um poema intitulado “Doce no Sal” (editado no livro AROMA DE MÃE), acredito que sempre nos deixamos e ao mesmo tempo levamos em nós o calor de tudo que tocamos e vivenciamos vida afora… Ah, quantas vezes conversamos com as paredes!
Minha principal bagagem é esta: os amigos que me acompanharam durante todos os anos em que vivi na minha querida Belo Horizonte, no bairro Bom Jesus, e depois em Contagem, no bairro Eldorado, onde criei meus filhos (Amanda e Lucas) e minha neta Luara.
Na cidade de Contagem (da qual ganhei o título de cidadão honorário), cheguei com dois livros e, sob a luzidia paisagem do terraço do apartamento em que moro há 25 anos, escrevi mais 12, sendo um deles o inédito QUANDO A VEZ É DO MAR, romance que carrego para Santo Antônio do Monte, onde espero cuidar dos acertos finais e lançá-lo em comemoração aos meus 60 anos, no dia 27 de abril de 2012.
Meu trabalho literário se confunde com minha própria vida e foi por intermédio dele que me vieram os melhores amigos. Não tenho como esquecer o fato de que empresárias de Contagem, sob a iniciativa de Graça Paiva, patrocinaram o meu livro PELAS PARTES FEMININAS, destinando-me o valor necessário à impressão antes mesmo de a obra estar terminada… Não há como tirar das paredes da lembrança o gesto de amizade do garçom Juvenal, que por meio do proprietário do bar e restaurante em que trabalhava (o velho Scotellaro) conseguiu patrocínio para o coquetel de lançamento de um dos meus livros… Não tem como esquecer o jornalista Pedro Mesquita, que recorreu ao dono da tradicional Cantina do Lucas (Edmar), para nos socorrer em patrocínio de coquetel… Não há como deixar de lado a generosidade do empresário Antônio Faleiro, que por três vezes nos premiou com o patrocínio do Buffet Faleiro… Não tenho como deixar de enaltecer a boa vontade do Wilson Miranda (nosso amigo e sucessor na presidência da Associação Mineira de Imprensa – AMI), cuja sede abriu por várias vezes para a realização de lançamento de meus livros…
E como não levar no coração os amigos conquistados no Diário de Minas/Jornal de Minas, Hoje em Dia, Tribuna de Mariana e em especial no Diário da Tarde, onde tive a felicidade de chefiar o inesquecível 4º turno de revisão (O TURNO DA MADRUGADA)? Terminado o trabalho, principalmente na madrugada de sexta para sábado, íamos ao bar do Luiz Americano, lá na pracinha Uruguaiana, bairro Santo André/Bom Jesus, de onde saíamos com o sol quente nos banhando o rosto repleto de horizonte de sonhos.
E como tirar da lembrança os amigos ilustradores e diagramadores que me emprestaram, com alegria e competência profissional, o talento de sua arte aos meus (nossos) livros? Muito obrigado Hamilton Flores, Nivaldo Marques, Quinho, Nelson Flores, Ana Carolina, Erivelto Arifa, Evandro Luiz e Renato Iglesias. E ainda tem a minha querida amiga Berenicy Raelmy, jornalista e psicóloga, que tanto revisa o meu trabalho literário quanto me honra com o carinho de sua amizade.
Enfim, fica aqui a minha gratidão tanto aos que participaram (e continuarão participando) diretamente da edição de meus livros, seja no auxílio material ou no imprescindível comparecimento aos lançamentos, quanto aos que incansavelmente me apoiam na divulgação de minha obra e do meu site, enraizando em mim a verdadeira amizade, pois o meu trabalho literário é uma espécie de extensão do meu espírito.
Como não há crescimento nem mudança sem dor, com a vida sempre nos exigindo a cessão de alguma coisa para que possamos seguir em frente, informo-lhes que passados tantos anos da morte de minha mãe Betty Rodrigues Gontijo (19/12/1989), eu e meus irmãos, Vera Lúcia e Marcílio Múcio, estamos vendendo o sítio em que ela, mesmo já doente, plantou dezenas de pés de manga (a sua fruta preferida), flores e tantas árvores…
Mamãe dizia que os bens materiais não nos pertencem – é tudo emprestado! Confesso-lhes que aproveitei bastante o empréstimo. No sítio, meus filhos tiveram a oportunidade experimentar uma infância saudável. Houve uma época em que pouco ia a Santo Antônio do Monte, pois a viagem terminava a 16 quilômetros do município. Ou seja, o sítio era a minha segunda casa. Nele, orei e acendi muitas velas na gruta erguida pelo pedreiro “Gringa”, que sob a orientação de minha saudosa mãe Betty utilizou tão-somente paralelepípedos em sua construção; ali comemorei os meus 40 e 50 anos, reunindo um punhado de bons amigos – pois ninguém é feliz sozinho.
Afirmo-lhes que não tenho forças para ir lá, antes de passar a escritura, com o objetivo de dar uma última olhada na paisagem. Todavia, não é preciso, pois todo aquele quadro verdejante pintado pela natureza habita e, mais que isso, está incrustado em minha alma. Não tenho a menor dúvida de que tal filme se revelará em mim, permanentemente, enquanto eu estiver neste mundo.
Agora, retomando o assunto em relação às cidades de Belo Horizonte e Contagem, declaro-lhes que as reverei de quando em vez. Meu filho Lucas continuará residindo em nosso apartamento fincado em solo contagense e, enquanto a saúde me permitir subir as escadas até o quarto andar, eu estarei sempre revisitando a paisagem que me abraçou e abrigou por tantos bons e floridos anos de minha vida.
No mais, deixo-lhes um até breve. Temos um encontro marcado – se Deus assim o quiser! – no lançamento de 27 de abril de 2012 (aquele dos meus 60 anos). Muito obrigado a todos! Vocês fazem parte do abre e fecha das velhas (e novas) porteiras do destino que faço com a força de meu braço revigorado pelo Criador. Eu sempre os reconhecerei, independentemente do tempo e da distância.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br