Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                  Carlos Lúcio Gontijo

       O risco de gerenciar cultura, grandes bibliotecas ou museus é deixar de falar de cultura, que em muitos casos se transforma em simples objeto de gestão, sem qualquer sentimento de arte nem compromisso com os
autores. Dirigir centros culturais costuma não ser boa experiência
para os que realmente produzem cultura, sejam eles pintores,
escultores, escritores, músicos ou poetas, pois a tendência de quem
dirige espaços culturais é se restringir a uma série de apêndices,
como é o caso da busca de patrocinadores e convênios, que são questões
afetas a burocratas e não a quem faz ou almeja se concentrar apenas no
horizonte alinhavado e a ser criado pela imaginação artística.
        Indubitavelmente, a arte se nos apresenta mais pobre toda vez
que os olhos das instituições públicas e privadas se voltam
completamente para os números e a possibilidade de lucro com a venda
de ingressos, privilegiando a arte de cunho comercial e puro
entretenimento, considerada mais palatável ao grande público, que
geralmente não é afeito a obras culturais mais densas e reflexivas.
        Estamos momentaneamente no cargo de Secretário de Cultura da
cidade de Santo Antônio do Monte, onde temos procurado desatrelar os
eventos culturais do mundo dos negócios que rebaixam o bem cultural a
simples produtos. Não nos permitimos, até mesmo em respeito aos ideais
que norteiam o prefeito municipal Dr. Wilmar de Oliveira Filho, ver as
instituições de arte dentro do exclusivo objetivo financeiro. Um
museu, por exemplo, não pode ser aprisionado em estrutura meramente
burocrática, com funcionários de olho no relógio de ponto, enquanto a
história, em exposição estática, toma a poeira do tempo e se perde no
esquecimento.
          A cultura da comunidade em que vivemos é a que deve (e
precisa) ser abraçada e estimulada por nós, evitando-se que ela ande a
reboque de projetos estaduais e nacionais, que na maior parte das
vezes nada têm a ver com os anseios de nossa gente e sequer contribuem
com recursos suficientes. Nesse aspecto, estamos desenvolvendo uma
mostra cultural em praça pública, com total ênfase para o artista de
nossa Santo Antônio do Monte, à qual batizaremos de “SAMostra”.
           Enquanto isso, em outro plano, confessamo-nos assoberbados
com a nossa própria produção literária, pois os novos livros, que
pretendemos lançar ainda neste ano de 2013, estão padecendo de
involuntário atraso, por absoluta falta de tempo, como se estivéssemos
sob o signo da burocracia, tipo mulato inzoneiro, como nos canta Ary
Barroso, na “Aquarela do Brasil”, um país em que, segundo Padre
Antônio Vieira, “o verbo furtar conjuga-se em todos os tempos, em
todos os modos e todas as pessoas”, desviando para o ralo de
insensíveis “não-poetas” (os materialistas e donos da realidade)
recursos que democratizariam o acesso à saúde, à moradia, à educação e
à cultura, que é o alimento da mente e da alma de todo ser humano
banhado na divina luz do amor ao próximo.
            De resto e por fim, somente nos cabe manter viva a chama
da crença e orar aos céus, pedindo a Deus que nos dê persistência,
discernimento e sabedoria, para que exerçamos o nosso papel sem nos
perdermos em meio à inútil papelada burocrática que nos rodeia.
             Carlos Lúcio Gontijo
              Poeta, escritor e jornalista
             www.carlosluciogontijo.jor.br

            24 de julho de 2013