Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                                         Carlos Lúcio Gontijo

       Não há muito que fazer quando se pensa em cultura como processo a ser construído dentro do ambiente escolar, através da simples transmissão de conhecimento propiciado pela programação didática, como se a reflexiva sensibilidade cultural pudesse ser concedida, ou contida, no ato de outorga de diploma, com carimbos e selos da oficialidade, a estudante de uma área de formação qualquer. De doutores incultos, com pompa e circunstância, a sociedade está cheia, minando os alicerces da arte, da literatura e do cinema.

       No Brasil, onde não temos ensino integral, numa adoção que possibilitaria aos estudantes dos ensinos fundamental e médio um elevado número de atividades extracurriculares, o problema da indústria de entretenimento, tomada como fator de promoção cultural, se agiganta e, explicitamente, se nos apresenta como item exponencial para a corrente tramada por agentes da burocracia governamental, que partem do princípio de que a democratização da cultura é busca que pode ser alcançada mais facilmente à medida que se trabalhe pelo seu empobrecimento, por intermédio da universalização da superficialidade.

       Ou seja, os analfabetos funcionais da educação – que leem, mas não entendem o conteúdo do que foi lido – chegarão ao mundo da cultura pelas mãos da superficialidade, intencionalmente projetada e proporcionada pela indústria do espetáculo, onde a arte banalizada usa laivos descaracterizados da alta cultura, que não tem como sobreviver mergulhada na efetiva materialização da tese de que aprendizado saudável e possível, diante de uma civilização marcada pela pressa, é aquele que pode ser adquirido sem qualquer esforço intelectual. Estamos prestes, portanto, a construir sábios sem sabedoria alguma.

      A boa arte e a cultura verdadeira são criações artesanais da mente humana que, independentemente do que pensamos sobre elas, não há como nos comportarmos com indiferença ou desdém, quando com elas nos deparamos. Hoje, tudo se encontra estendido num palco excessivamente iluminado, cumprindo o objetivo de embaçar e cegar a plateia, que aplaude e pede bis, com seus copos de bebida nas mãos e ouvidos fechados à sonora dissonância artística.

      Descaminho e modismo costumam mesmo grassar em determinados períodos da história da humanidade, todavia a transformação da cultura em mero componente de diversão é imbróglio de difícil solução, pois passou a representar fonte de lucro para um enorme segmento, principalmente em relação ao mercado musical, com seus sucessos de geração espontânea, prontos e mastigados, que logo são substituídos por outros de idêntica insignificância, mas que prestam relevante serviço à continuidade da indústria do entretenimento, que serve ao cérebro humano como o chiclete ao fortalecimento da cadeia alimentar.

      Carlos Lúcio Gontijo

      Poeta, escritor e jornalista

      www.carlosluciogontijo.jor.br

     6 de setembro de 2013