Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

        

         O tempo passa ligeiro na medida certa da bitola de suas linhas, nunca descarrila e vai deixando na exata hora do destino cada um de nós na estação final de nossas vidas. A internet nos propiciou a grata satisfação de estabelecer contato com o jornal O TREM Itabirano, um tabloide de comunicação impressa que é tangido por filosofia editorial pautada em matérias de opinião, que fazem de suas páginas um oásis de reflexão em meio ao feixe de futilidades, elevadas doses de partidarismo político e seletividade na exposição de escândalos envolvendo as hostes do cada vez mais encardido colarinho branco por que optou os chamados “jornalões”, que hoje padecem tanto de falta de credibilidade quanto de crise financeira.

        Sabemos nós da dureza que inunda o caminho cotidiano de toda e qualquer publicação impressa independente, na qual o único combustível costuma ser o empenho idealista dos que se propõem a levá-la à frente. Incrivelmente, assistimos no TREM um veículo de comunicação alicerçado em artigos assinados, no momento em que jornais de grande porte se propõem a concorrer com a internet no que ela tem de melhor, que é a conjugação de imagem e do acompanhamento da notícia em tempo real, implantando visual gráfico que privilegia a foto em detrimento do texto, mantido sob uma padronização de curto, leve e desprovido de qualquer comentário. Aliás, muitos são os tabloides que não dispõem sequer de página de opinião.

         Confessamos que para nós é um orgulho, uma verdadeira premiação, ter nossos artigos publicados pelo TREM, onde nosso nome circula ao lado de articulistas de relevo como Jorge Fernando dos Santos e de Hermínio Prates, que tingem de intelectualidade e jogam semeio de olhar reflexivo às páginas daquela locomotiva jornalística, fonte de natural engrandecimento do povo de Itabira, confortando o espírito do poeta maior Carlos Drummond de Andrade diante da escalada de empobrecimento da qualidade que atinge praticamente todas as manifestações da criatividade humana, fortemente contaminadas pelo imediatismo e pela procura de sucesso instantâneo, agrupando tudo na área do lazer e do entretenimento, sem qualquer reserva de assento para a existência de trabalhos intelectuais mais bem elaborados ou que sirvam de norte e alimento para o desenvolvimento da mente das pessoas.

          Neste mês de maio, depois de 35 anos e seis meses de labuta, vamos reunir a papelada e nos aposentar junto ao INSS, como a imensa maioria dos brasileiros, que termina penalizada pelo famigerado fator previdenciário, que subtrai, logo de início, significativa porcentagem do valor a ser pago ao aposentado, que continuará punido enquanto Deus não o levar deste mundo, por intermédio da aplicação de aumentos em porcentagens maiores para os trabalhadores da ativa, em explícito menosprezo à contribuição dada ao país pelos brasileiros que se afastam do mercado de trabalho vencidos pelo inexorável passar dos anos.

         Numa quadra assim desfavorável, o que temos a nos marcar a alma são apenas os entes queridos da família, nossos livros, a nossa carreira de jornalista, nosso site “Flanelinha da Palavra” e alguns bons amigos e espaços de comunicação como O TREM Itabirano, que compõem os trilhos e as trilhas do nosso tempo, tatuando a nossa passagem por este planeta Terra, onde a ignorância (como se fosse possível!) passou a ser o pincel com que se almeja transmitir às próximas gerações toda a sabedoria contida nos livros e nos escaninhos virtuais de conhecimento, que se perdem na poeira cósmica da absoluta falta de busca.

       Carlos Lúcio Gontijo

       Poeta, escritor e jornalista

       Secretário de Cultura de Santo Antônio do Monte/.MG 

       www.carlosluciogontijo.jor.br