Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

O real interesse das associações comunitárias, igrejas e ONGs (organizações não-governamentais, dirigidas por gente bem-nascida e articulada, geralmente proveniente de elites financeiras e intelectuais) envolvidas com políticas de assistência e amparo a crianças e adolescentes é sempre colocado em xeque diante da realidade cruel enfrentada pelos menores que habitam os lares mais pobres do Brasil. A decantada preocupação com as crianças e jovens cai por terra toda vez que nos deparamos com o crescimento anual da quantidade de crianças-mães, atingindo meninas com idades variando entre 11 e 14 anos. E o pior é que, para inteirar a conjuntura anômala, os profissionais do assistencialismo conseguiram atrair o setor produtivo, cujo dever principal (e responsabilidade social) é produzir com respeito ao meio ambiente e cometer a libertadora caridade do emprego, em vez de se enveredar rumo à filantropia inócua.

A inoperância das políticas públicas e segmentos que têm como matéria-prima de suas ações, sempre dependentes de convênios e verbas oficiais, os que padecem na pele todas as mazelas sociais produzidas pela erva daninha da desigualdade planejada pelos senhores do capital, fica explicitamente estampada nos casos de exploração do trabalho infantil, de cooptação de menores pelos agentes do crime organizado, principalmente do tráfico de drogas, e também de aliciamento feito por gangues especializadas na exploração sexual de crianças e jovens, que atendem em especial aos pedófilos de todo o planeta. Os anos de ditadura criaram, para a democracia, o estigma do é proibido proibir, com a sociedade se vendo jogada num sufocante lixão de permissividades sem qualquer controle ou limitação. É por isso que é raro, no Brasil, assistirmos a movimentos direcionados à contestação no tocante a programas televisivos e mensagens publicitárias pautadas em cenas de sexo explícito, pois os anos de autoritarismo semearam o temor de a boa intenção de movimentos em prol de respeito a normas morais de senso comum serem aproveitados por golpistas de plantão, que, na verdade, pouco ou nada se incomodam, por exemplo, com os abusos e taras sexuais perpetrados contra as crianças brasileiras por adultos inescrupulosos.

Carlos Lúcio Gontijo