Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                      Carlos Lúcio Gontijo

 

        Todas as cores que compõem a direita política brasileira, preto e branco como sempre, pois se recusa a se encaminhar para a modernização, está em festa, vislumbrando seu próprio renascimento através das justas manifestações populares, que, sob a iniciativa de jovens distantes de política partidária formal, tomaram as ruas. A pressa e o descaramento em tirar proveito foram tão explícitos que até políticos de Minas Gerais, onde houve a esdrúxula norma de proibição de passeatas durante os jogos da Copa das Confederações, reivindicada junto à Justiça pelo governo do Estado, colocaram as “manguinhas” de seus paletós encardidos de fora.

        A sede de poder está estampada nos olhos de determinados grupos do mundo da política feito sangue em olho de vampiro. Planejam retomar o sonho que lhes motivou a introdução da reeleição no cenário eleitoral brasileiro, quando esperavam ficar, por pelo menos 20 anos, no comando dos balcões de negócios das privatizações abertos ao mercado da economia global, que nos impunha juros elevados e muito desemprego, que (segundo o sociólogo presidente da época) era fenômeno originário da baixa qualidade da mão-de-obra brasileira, chegando a afirmar, em neologismo de ilustrado acadêmico, que o país detinha um grande número de trabalhadores “inempregáveis”.

         Preocupa-nos a atuação da mídia seletiva, que no exercício de jornalismo revestido de tendência partidária opta por trazer à tona os deslizes de uns enquanto esconde os podres de outros. O chamado “escândalo do mensalão” é um dos maiores exemplos dessa anomalia prejudicial ao estabelecimento de legítima informação democrática. Iniciado com ações perpetradas por políticos de Minas Gerais, o tal mensalão só se tornou alvo de investigação ao ser praticado, nacionalmente, por dirigentes petistas, ao passo que os criadores da sistemática ilícita permanecem impunes. 

         E tem mais: como pode um ex-governador ter processo tramitando no âmbito da Justiça mineira, acusado de um desvio de verbas da saúde equivalente a 4 ou 5 “mensalões”, ser protegido pela grande mídia, que não repercute o assunto com o mesmo entusiasmo e sanha investigava com que se debruça sobre tantos outros fatos, mergulhando qualquer indício envolvendo seus desafetos nas águas de seguidas e chamativas manchetes, nas quais tudo vale, inclusive transformar bolinha de papel em potente e mortal projétil balístico, como se deu em comício de político paulista candidato à Presidência.

          Torcemos para que o movimento de jovens na rua, na base do vamos deletar, que tanto assustou os partidos políticos, democrática e indistintamente, apesar da existência de analistas dispostos a submeter tudo à ótica de seus escusos interesses, sirva de alerta sério e não de simples alicerce para revisões inócuas e remanejamentos que apenas disfarçam o continuísmo, dando ao comportamento ultrapassado uma ilusória aparência de novo. Ou seja, as vestes nos parecerão renovadas, mas as mãos do corrupto e do corruptor serão as mesmas, contendo a idêntica impressão digital, à qual a geração de muita informação e baixa absorção intelectual pensou estar deletando, como se tratasse de um daqueles joguinhos de computador a que se acostumou nos dias de hoje, onde pessoas sem face ideológica definida marcam encontros sem clareza de pauta pelo facebook.

            Carlos Lúcio Gontijo

             Poeta, escritor e jornalista

           www.carlosluciogontijo.jor.br

           28 de junho de 2013