Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

 

                   Nossa sociedade se modernizou com a introdução de novas tecnologias em seu cotidiano, estabelecendo uma interconexão ilimitada e em tempo real através das redes sociais. Entretanto, enquanto isso acontecia de maneira abrangente, a classe política antagonicamente se esmerou em preservar suas velhas práticas, com os poderes constituídos se mantendo distantes das pessoas e inventando benefícios como se tivessem uma bola de cristal que lhes apontasse os anseios sociais, num comportamento egoísta de quem acha que pode materializar melhorias no plano coletivo segundo a sua visão particular.  Não importa sequer o tamanho das cidades, a distância entre autoridades e cidadãos é sempre abissal.

             A classe política vive hoje um terremoto construído com as próprias mãos, ao emitir altas doses de indiferença no trato da coisa pública, que jamais mereceu o cuidado que lhes é devido, submetida que está à constante corrosão de acordos, ao invés da busca de consenso democraticamente construído, pela clara exposição de pensamentos.

            Dessa forma, ou por isso, temos em cada acordo, tramado sob o uso irresponsável da coisa pública como moeda negocial, a subtração de fatias, o surrupio de porcentagens, a inconfessável troca de favores. Ademais, os homens públicos têm aversão por ideias contrárias às suas, optando por conversar com seus pares, muitos deles serviçais ou contumazes puxa-sacos de plantão e carteirinha. Em síntese, pensam estar processando diálogo, quando na realidade se encontram mergulhados em profundo e solitário monólogo.

           Avessa à projeção de verdadeira reforma política, a classe política assistiu passivamente à perda de sua representatividade, bem como à diminuição de sua capacidade de ouvir a voz das ruas, levando o povo, dentro do objetivo de alcançar os mocos ouvidos congressuais, a sair e tomar conta das vias públicas em protesto contra a falta de transporte capaz de lhe dar passagem a um lugar melhor e mais digno no futuro que lhe bate à porta.   

           Não resta a menor dúvida que a sociedade tecnologicamente conectada, onde todos se falam o tempo todo (ainda que não se conheçam), não admite mais ser administrada e receber ordens de uma máquina pública improdutiva, presa a uma burocracia perdulária e que faz da papelada e dos múltiplos carimbos a única razão de sua existência, fazendo-a resistir à introdução de novas tecnologias capazes de dar transparência e legalidade às suas ações, a exemplo das licitações, que permanecem alicerçadas em leis arcaicas, mais inclinadas a confundir que esclarecer, numa época em que a informatização é instrumento competente na geração da indispensável transparência.

          Acreditamos que apenas uma efetiva reforma política será ferramenta suficiente no desarme de tanta insatisfação da população no tocante aos poderes da República, que pecam pela morosidade, pela resposta letárgica aos reclames da sociedade, que vai às urnas e se sente, na sequência, como se tivesse sido usada na legitimação de governos que, uma vez eleitos, exercem administrações amplamente autoritárias e, sobretudo, antidemocráticas.

        Carlos Lúcio Gontijo

        Poeta, escritor e jornalista

       www.carlosluciogontijo.jor.br

       22 de junho de 2013