Carlos Lúcio Gontijo
Dia 26 de novembro de 2013, a Secretaria de Cultura e Turismo de Santo Antônio do Monte e a Associação dos Amigos do Centro de Memória Municipal (ACEMM) homenagearam o músico Geraldo Afonso, popularmente conhecido como Geraldo da Pina, com a outorga da Medalha do Mérito Cultural Miguel Eugênio de Campos, que nasceu em Pitangui no dia 27 de abril de 1860, mas viveu durante 20 anos no município santo-antoniense, onde faleceu em 27 de abril de 1929, ao completar 69 anos.
Miguel Eugênio de Campos, como a boa semente transplantada para outra terra, deu a Santo Antônio do Monte muitos frutos, ao implementar várias ações culturais que mudaram a face da cidade: fundou a Sociedade Santa Cecília, entidade destinada a revitalizar a banda, criou orquestra de violinos, incentivou apresentações teatrais e elaborou importante coleta de dados históricos da cidade. Miguel Eugênio de Campos soube como ninguém compartilhar com a população santo-antoniense a sua competência de instrumentista, compositor e professor público.
Dessa forma, quando a medalha que leva o seu nome é passada ao músico Geraldo da Pina, temos a mais plena certeza de que estamos diante de um quadro em que duas pessoas de mérito se encontram, pois ambos são, cada um a seu tempo, exemplos de como deve comportar-se um artista de verdade.
A cultura é para quem é de cultura, independentemente de credo, cor, ideologia política, escolaridade, poder econômico e religião, costumamos afirmar. E toda vez que a gestão de mecanismos culturais cai na mão de curiosos ou de gente que dela se aproxima sob a intenção de ganhar notoriedade intelectual, assistimos à instalação de enormes prejuízos, pois ocorre grave supervalorização da indústria de entretenimento, diminuindo os espaços em detrimento da cultura de raiz, que se transforma em ferramenta de humanização dos seres humanos, ao imantar os conceitos e conteúdos incutidos pela educação com a textura da sensibilidade, da emoção e da real noção da presença do invisível em nossas vidas.
Hoje, morando em Santo Antônio do Monte, permaneço na mesma batalha que travava em Belo Horizonte: persigo o soerguimento de uma cultura brasileira democratizada, na qual os poucos recursos existentes não sejam sempre carreados para os mesmos figurões do mundo artístico, que mantêm escritórios com gente especializada em abocanhar recursos públicos.
Um instrumentista da dimensão de Geraldo da Pina, que certa feita foi reverenciado por Waldir Azevedo durante uma apresentação do grupo Minas ao Luar em praça pública, merecia ter registro em gravação solo de sua iluminada virtuose, mas o aplaudido músico regional jamais será contemplado por qualquer lei governamental, ainda mais nos dias de agora, nos quais as pessoas não mais (ou dificilmente) ouvem música assentadas nas poltronas de teatros e auditórios, pois a moda é a montagem de grandes shows de entretenimento, onde ninguém está nem aí para o encanto da melodia ou a beleza da letra de uma execução musical.
A Medalha do Mérito Cultural Miguel Eugênio de Campos ficou tão bem dependurada no peito do músico, instrumentista e vocalista Geraldo da Pina que, olhando a cena com os olhos de enxergar, a gente até percebia que ele se cercava de abençoadas energias invisíveis – seu pai Marinho Araújo e o professor Campos, em festa espiritual pela felicidade de ver a honraria que leva o seu nome em mãos de quem realmente fez por merecê-la!
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
27 de novembro de 2013