Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

                     Carlos Lúcio Gontijo

       Muitos são os livros que vão ficando na estante sob a silenciosa espera de que os procuremos para ler. “O Triunfo”, escrito por John Kenneth Galbraith (economista canadense naturalizado americano), um dos mais próximos colaboradores do presidente norte-americano Kennedy, numa tradução de Carlos Lacerda, estava em nossa estante há muito tempo e só agora, quando pouco tempo temos tido para ler, resolvemos folheá-lo.

      Carlos Lacerda escreve nas páginas finais do romance uma interessante análise, um brilhante ensaio, repleto de enunciados sobre o panorama sociopolítico nacional: “Um dos aspectos mais terríveis do subdesenvolvimento brasileiro é esse horror à verdade que aqui floresce. Tal horror se transforma até em instrumento de poder. Combater os que dizem a verdade desagradável aos poderosos tornou-se uma das maneiras, sórdidas mais eficazes, de se participar do poder”.

     Lacerda é mordaz em relação à classe política: “Em política, a inteligência é como a gagueira no teatro, algo que se precisa superar para fazer carreira. Um intelectual chega a receber votos do povo, mas raramente, ou nunca, o reconhecimento dos políticos e a confiança dos militares. Àqueles consideram a inteligência uma afronta, estes, uma insinuação”.

     Pois bem, ao final descobrimos a razão de termos apanhado, casualmente, o romance “O Triunfo”, editado em 1968, pela editora Nova Fronteira: é que estamos prestes a enfrentar as dificuldades de lançar mais dois livros no Brasil, onde a inteligência permanece predicado malvisto e a mentira uma maneira de a pessoa ser mais facilmente aceita pelo conjunto da sociedade, que toma a verdade como intolerável agressão e não uma fonte de crescimento moral.

   Pela primeira vez em muitos anos, não conseguimos levar nossos livros ao prelo antes do meio do ano, devido a afazeres (momentâneos e passageiros)  que andam prejudicando nossa atividade de poeta, escritor e jornalista, que está para nós como o próprio ar que respiramos. Livro não é produto com grande capacidade de atrair o voo da freguesia e, se o lançamento avança para os meses próximos do fim de ano, quando as pessoas se preparam para o Natal e o réveillon, o problema se agrava, pois obra literária é prioridade para poucos, ou seja, não tem como competir com a parafernália ofertada pela indústria de consumo.

    Entretanto, nem tudo está perdido. Nestes dias finais de agosto, fiquei sabendo que a biblioteca que leva o nosso nome no bairro Flávio de Oliveira, aqui em Santo Antônio do Monte, estava se encaminhando para o fechamento. Coloquei a notícia no facebook, o veículo de comunicação que foge do desinteresse dos meios tradicionais de divulgação, que não estão nem aí no tocante a assuntos relacionados à cultura, ainda mais uma simples biblioteca de periferia.

     Num lance de sorte, Wantuil Ferreira, vice-presidente da associação do supracitado bairro, não se fez de rogado e se pronunciou, no próprio facebook: “Gostaria de lhes dizer que tenho compromisso com minha esposa Tânia, com meus filhos Wantuil Filho, Ariel Tainá e com os moradores do bairro Flávio de Oliveira de que, enquanto eu fizer parte da diretoria, morar no bairro Flávio de Oliveira e em Santo Antônio do Monte, farei de tudo para que a biblioteca comunitária do bairro Flávio de Oliveira não vire barzinho e tão pouco depósito de mercadorias. Tenho opinião diferente de outras pessoas e podem acreditar e confiar que as portas de nossa biblioteca comunitária estarão sempre abertas”.

   Logicamente, ficamos contentes e aliviados com as palavras do Wantuil Ferreira, mas também firmamos em nós a lição de que nos compete lutar pelo que julgamos ser verdadeiro ou correto, porque antes de qualquer coisa o triunfo sempre está em nossas mãos.

   Carlos Lúcio Gontijo

   Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

  26 de agosto de 2013