Quando quero contar sobre mim, são livros o que conto!

Carlos Lúcio Gontijo

O terço mais verdadeiro é aquele debulhado em contas de suor e trabalho. A oração que, ao certo, mais agrada ao Criador é proveniente de atos efetivos em prol da materialização do amor ao próximo apregoado por Jesus Cristo.

Nesse sentido, Santo Antônio do Monte é uma cidade abençoada (e privilegiada), pois Monsenhor Otaviano e Padre Paulo, cada um ao seu tempo e época, realizaram grande trabalho na área social, tornando-se exemplos de real exercício da irmandade cristã e capacidade de vislumbrar no outro uma extensão deles mesmos.

Dessa forma, quando a Administração Municipal adquiriu em definitivo a histórica Casa do Padrinho Vigário, a primeira ideia foi instalar ali um museu sacro, mas apareceram e sobrevieram à tona dificuldades de caixa do Tesouro Municipal, e aquela intenção teve que ser abandonada.

Contudo, talvez por interseção dos dois sacerdotes, que sempre agiram como se agentes sociais fossem, a ponto de Monsenhor Otaviano ganhar tantos afilhados que foi cognominado “Padrinho”, enquanto Padre Pedro Paulo Michla, um alemão mais santo-antoniense que muita gente nascida neste nosso solo, trouxe-nos a Santa Casa de Misericórdia, a Casa da Criança, a Escola Estadual Dr. Álvaro Brandão, alto-forno e fábrica de bala. Além disso, foi fundador do Curso Complementar Monsenhor Otaviano (eis aí a união de dois nomes do mundo da fé cristã), onde funcionava uma 5ª série ginasial e cursos em nível técnico de eletricidade, carpintaria e encadernação.

Como podem ver eles eram homens de fé e ação no campo de apoio à coletividade e foi, sob a luz desse horizonte, que a Administração Municipal houve por bem alocar na Casa do Padrinho Vigário, a fim de conter gastos com aluguel, seções ligadas ao trabalho social, no caso o Conselho Tutelar e o Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), que é uma unidade pública de assistência a moradores em risco social e de vulnerabilidade. Toda essa gama de propósitos sociais é muito mais que uma lembrança dos dois sacerdotes, transfigurando-se na própria face de ambos.

Diante do quadro que se nos apresenta, enfatizando que o casario não conta com quaisquer dos móveis antigos que compunham os seus compartimentos, dispondo apenas do rico acervo dos aposentos do Padrinho Vigário, que não pode ficar isolado, o Departamento de Cultura, em nome da Administração Municipal, já buscou entendimento para a instalação de novo acervo, em homenagem e honra à figura do Padre Paulo, que ficará no quarto ao lado, em corredor independente e completamente separado das áreas utilizadas pelo Conselho Tutelar e pelo CREAS.

Acima da porta de entrada do corredor que dá acesso aos dois quartos, será fixada uma destacada placa com os dizeres “É viva a Palavra quando são as obras que falam” (Santo Antônio). Em seguida, virão as fotos dos aludidos sacerdotes, com uma frase entre os dois: “Fé e trabalho social”. No mais, só nos resta esperar que funcionários, visitantes e devotos que visitarem a Casa do Padrinho Vigário sejam tomados pelo sentimento de servir ao próximo como se estivessem em pleno ato de fervorosa oração.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

30 de abril de 2014.